São Paulo, sexta-feira, 10 de julho de 2009

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JOSÉ SARNEY

Um grande passo

PASSOU batida na mídia nacional a importância para a história e a sobrevivência da humanidade do acordo feito entre Obama e Medvedev, presidente da Rússia.
O presidente dos Estados Unidos está tentando, com grande capacidade política e visão mundial, refazer o que Bush destruiu. Estávamos à beira de uma nova Guerra Fria com a política americana de reiniciar uma corrida armamentista, com os escudos nucleares a serem instalados na Europa e o aprofundamento das divergências com a Rússia, que como se sabe também é uma grande potência nuclear, possuindo cada um dos dois países mais de 7.000 ogivas, além de milhares de foguetes intercontinentais, instalados em bases terrestres e submarinas.
Obama propôs um novo tipo de relacionamento com a Rússia e com humildade confessou que seu país não pode sozinho arcar com os problemas de sobrevivência da humanidade, o primeiro deles a proliferação de armas nucleares.
Quem lê a história moderna sabe que a Segunda Guerra Mundial foi gerada pela leniência com que as potências aliadas fizeram vista grossa ao armamento da Alemanha, tornando-a incapaz de ser detida. Nessa experiência, o caminho da paz passa pelo desarmamento. O acordo entre Obama e Medvedev prevê que as duas potências reduzam o número de ogivas nucleares a entre 1.500 e 1.675, até 2016.
Evidentemente ainda restará uma quantidade enorme desses artefatos, que assustam só pela capacidade de reduzir a pó todas as grandes cidades do mundo. Se pensarmos o que foi feito em Hiroshima e Nagasaki com as duas bombas lançadas, que eram tecnologicamente rudimentares, poderemos avaliar o que isso significa em termos de destruição.
O acordo infelizmente não prevê parar o estudo de bombas "limpas", que penetram nas defesas para explodir em profundidade, e das bombas de fusão pura, por meio de simulação com laser (as bombas de hidrogênio atuais são disparadas por ogivas convencionais). Mas é um avanço, passamos da inércia para retomar o caminho do desarme completo.
Por outro lado, a Rússia compreende por que as ameaças da Coreia do Norte e do Irã são catastróficas. Possuir essas armas em mãos de fanáticos significa um perigo permanente para a humanidade. Devemos considerar também a amplitude mundial dessas armas, que uma vez utilizadas contaminam com radiação todos os povos. Assim, cada um de nós é parte desse problema. O homem foi muito longe ao ter em suas próprias mãos o poder de autodestruir-se, de destruir a vida. Esse é o problema dos problemas. Intolerância total com as armas nucleares, e bani-las da face da Terra é a única saída.

jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.



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