São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Bolha de alarmismo

Desde o início do ano, as famílias brasileiras têm demonstrado mais dificuldade de pagar suas contas em dia. Embora a taxa de inadimplência esteja em nível historicamente baixo, é notável que tal fato ocorra enquanto a renda cresce e quando também o desemprego se acha ineditamente baixo.
Tal conjunção de indicadores pode sugerir que os brasileiros tenham se endividado além da conta. Mas o fenômeno é recente e as informações disponíveis, incompletas, de modo que parece precipitado chegar a conclusões alarmistas sobre uma crise de crédito.
É fato que o comprometimento da renda com as prestações cresceu. Mas não de modo explosivo. Além disso, o peso da dívida subira também noutros momentos em que a inadimplência declinava.
Algumas hipóteses sobre os crescentes atrasos nos pagamentos identificam fatores de pressão passageiros. Os primeiros meses do ano concentram despesas importantes, tais como impostos sobre a propriedade de veículos, o que aperta os orçamentos.
A alta da inflação, do trimestre final de 2010 até junho, corroeu a renda. A pressão foi ainda maior sobre os mais pobres, pois a carestia dos alimentos foi significativa. Em parte menor, a elevação de juros encareceu dívidas com cheque especial e cartão de crédito.
Especula-se ainda que famílias recém-chegadas ao mundo do consumo, as da chamada classe C, talvez tenham menos experiência em adequar renda e dívida.
O ritmo de endividamento, no entanto, deve declinar.
O Banco Central tomou medidas que encarecem o crédito, reduzem prazos de financiamento e obrigam devedores a pagar parte maior das dívidas do cartão de crédito. A confiança do consumidor arrefece. Renda e oferta de emprego devem crescer menos.
O ajuste das famílias à nova situação deve produzir, de imediato, mais inadimplência. Os bancos dizem ter cobertura mais que suficiente para as perdas decorrentes.
A princípio, trata-se de um ajuste cíclico e comedido, com vistas à contração da oferta de crédito e ao desaquecimento da atividade econômica. Não há evidências de que o Brasil passa ou tenha passado por uma bolha de crédito.


Texto Anterior: Editoriais: Hora da verdade
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Confissões de despedida
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.