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CARLOS HEITOR CONY
Espumas flutuantes
RIO DE JANEIRO - Nada a ver com Castro Alves e suas "Espumas Flutuantes". As espumas que contam
(ou não contam conforme o caso) são
provocadas não por uma mas por
três CPIs que estão batendo simultaneamente em nossas costas, nem
sempre protegidas por muralhas de
pedra e indiferença.
Sempre haverá qualquer coisa,
além do que já houve. A parte mais
visível da ressaca -as espumas propriamente ditas- já cumpriu o seu
papel de espuma: vieram à superfície,
foram fotografadas e analisadas de
vários ângulos e logo serão superadas
por novas espumas no vaivém da
nossa história política.
O que importa é que as espumas
não nascem do nada. Elas são produzidas no fundo da nossa sociedade. O
fluxo e refluxo das marés, a força dos
ventos -e elas começam a ferver, parecem sempre as mesmas, embora
durem o espaço de espuma. E continuamente renovadas por embates
entre o mar e a rocha, a vida pública
e a vida nossa de cada dia.
Passando do mar, cujos limites
sempre terminam em espuma, para o
equipamento das nossas cozinhas, ao
lado dos garfos, das conchas e facões,
há também a espumadeira, que em
alguns casos retira aquilo que excede
dos ingredientes que estão na panela.
Um olhar panorâmico, uma grande-angular sobre a realidade que nos
cerca, incluiria a avalanche de espuma que chega à praia, marcando o limite das profundezas que não vemos
nem registramos em nossas lentes, incapazes de abocanhar o lixo submerso do qual emergem as espumas.
(Desconfio que nunca em minha vida profissional apelei para tamanhas
e tão prosaicas metáforas. Em todo o
caso, já começo a sentir fadiga de
tanta espuma. E apelar para a metáfora, se aborrece o leitor, de alguma
forma me distrai. Nos últimos dias,
após cada sessão das CPIs, leio atentamente o Eclesiastes procurando entender o que não entendo.)
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