São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI Réquiem para HD SÃO PAULO - Há um Honesto
Desconhecido, doravante tratado
por HD, à solta por aí. Mais exatamente, em Rondônia. É o único dos
24 deputados estaduais não acusado de trambiques.
É tamanha a podridão no país
tropical que conseguiu violentar
uma das regras fundadoras do jornalismo. Jornalismo é, na essência,
o relato da anomalia. Notícia é avião
que cai ou atrasa muito, não aviões
que decolam e pousam mais ou menos no horário, aliás a avassaladora
maioria.
Em Rondônia, a avassaladora
maioria dos deputados é trambiqueira, mas, mesmo assim, os nomes dos 23 saíram no jornal. O da
anomalia, o honesto desconhecido,
ficou no anonimato.
Consta até que está cadastrado
no Ibama, como espécime ameaçada de extinção. Receberá, quando
seu nome for conhecido, pulseirinha com a inscrição "político honesto 0001". O fabricante das pulseiras avisa que descontinuou a
produção. Falta demanda.
O anonimato protege as crianças
de HD. Já imaginou a reação dos coleguinhas ao verem chegar os filhos
da anomalia? "Ói, lá, o filho do honesto", dirão, escandindo as palavras como antigamente se fazia
com "filho da puta".
Protege também a mulher do indigitado. Poupa-a do vexame de, ao
entrar no cabeleireiro, ser recebida
com olhares irônicos das mulheres
dos 23 trambiqueiros e com a dúvida da dona do salão: "Mulher de honesto tem dinheiro para pagar pelo
menos a unha?".
HD disfarça-se para freqüentar
seu local de trabalho, a Assembléia
Legislativa. Um colega, outro dia,
disse-lhe que não poderia mais tratá-lo como "excelência". Emendou:
"Sua honestidade é uma vergonha
para a categoria".
HD pensa em pedir asilo. De cara,
descartou Brasília. Mas está difícil
encontrar-se em qualquer ponto do
Brasil. É um aleijão. Agride a "normalidade" da pátria.
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