|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
De volta aos 12 anos
RIO DE JANEIRO - Um comboio
de 15 carretas transportando cigarros vindos do Paraguai foi apreendido na semana passada pela Polícia Federal em Bataguassu, MS. A
carga era composta de cerca de 10
mil caixas de cigarros, contendo
500 mil pacotes ou 10 milhões de
maços, num total de 200 milhões de
unidades.
O carregamento se destinava a
São Paulo, o Estado mais hostil do
Brasil à prática do tabagismo. Significa que os contrabandistas não se
intimidaram com a ideia fixa do governador José Serra.
Tudo isso antes que a lei antifumo de Serra entrasse em vigor, o
que aconteceu neste fim de semana.
A partir de agora, fumantes que insistam em frequentar boates ou botequins deverão submeter-se a revistas por fiscais façanhudos, comprar uma pulseira para se identificar e pedir permissão ao bedel para
ir fumar lá fora -desde que o estabelecimento não tenha um toldo na
porta, o que, segundo a lei, caracterizaria aquele espaço na via pública
como um lugar fechado. Em outras
casas, estarão sujeitos à delação oficialmente estimulada e poderão ter
seus cigarros apreendidos. Se Serra
queria tornar irresistível o prazer
de fumar, conseguiu.
É também a infantilização maciça da população, uma volta geral
aos doce 12 anos, idade em que meninos e meninas costumam fumar
escondido. A maioria das carreiras
tabagistas começa ali, nas escadas
de serviço, na burla à proibição dos
adultos. É no que apostam os contrabandistas de cigarros, agora
equiparados aos traficantes de drogas -no natural fascínio da juventude pelo proibido.
Algo me diz que o rigor dessa lei
criará uma vasta geração de jovens
fumantes. As estatísticas dirão melhor, e a quantidade de cigarros
apreendidos pela Polícia Federal
logo será o novo índice de consumo,
assim como acontece com as
apreensões de maconha e cocaína.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: A Receita desandou Próximo Texto: Marina Silva: Um pequeno desvio Índice
|