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MARCOS NOBRE
"Sim" ou "não"
Não há como evitar a sensação de que não está acontecendo nada na política nacional. Porque não está acontecendo mesmo. Ou melhor: está, mas não é nada bom.
Aqui chegamos porque o
processo de peemedebização
da política se completou. É um
dar de ombros generalizado.
Se "o país está no rumo certo" e se "política se faz com o
que se tem", todo mundo se
torna "realista". Ou seja, se
não há alternativa à política
peemedebizada atual, não vale mesmo a pena perder tempo
com isso.
A menos, claro, que alguém
queira mexer com o queijo de
outra pessoa. Mas também para isso o sistema político encontrou sua resposta. Vai tentar resolver os problemas, claro; mas todo mundo sabe que
isso é muito difícil. Agora,
uma coisa é certa: ninguém
vai tomar nenhuma medida
drástica que afete interesses
particulares.
Se você é empresário, pode
ter certeza de que nenhuma
política setorial será feita para
prejudicá-lo -só, eventualmente, para beneficiá-lo. Se
você é contra o aborto e o casamento gay, não se preocupe,
ninguém fará nada para aprová-los.
Agora, não prejudicando
nenhum interesse específico,
não há nada que impeça de se
dar uma ajuda para um ou outro setor. Afinal, ninguém vai
perder e ainda algumas pessoas vão ganhar. Seja qual for
a candidatura vencedora na
eleição. O país está crescendo
e todo mundo será sócio desse
clube.
Essa é a forma atual da neutralização da política, a versão
peemedebizada da ideologia.
Não espanta que não haja
debate, confronto. Simplesmente porque nada há para
debater.
A política que temos exige
sempre um "sim" ou "não"
para questões que são muito
mais complicadas do que essa
alternativa pobre. Acontece
que a maneira como cada pessoa chega ao seu "sim" ou ao
seu "não" importa. Aliás, é o
que mais importa. Mesmo que
a escolha por um dos polos
não se altere, as razões para
escolher ficam mais complexas. No fundo, a decisão mesma é um momento menor da
política democrática.
A novidade do grande consenso atual é ter conseguido
convencer de que toda a política se reduz a essa decisão, à
faca no pescoço do "sim" ou
"não", a um "afinal, de que lado você está?". A questão hoje
é a de saber até quando esse
acordo extorquido ainda será
suficiente.
Foram mais de 150 colunas,
foram mais de três anos tendo
o privilégio de ocupar este espaço. Com total liberdade,
sem interferências de nenhum
tipo, diretas ou indiretas. Fica
o agradecimento à Folha pela
oportunidade. E, principalmente, o muito obrigado a todas as pessoas que tiveram a
gentileza de acompanhar, semana após semana, essa experiência.
nobre.a2@uol.com.br
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