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A cartada de FHC
Em mensagem ao PSDB, ex-presidente tenta mobilizar seu grupo político no partido já com vistas à sucessão de 2010
NÃO É a primeira vez
que uma manifestação do ex-presidente
Fernando Henrique
Cardoso causa frenesi na campanha de Geraldo Alckmin. A "carta-manifesto" da quinta-feira foi
precedida, em 30 dias, de uma
entrevista a uma publicação
mensal em que FHC afirmava
ser José Serra a pessoa mais preparada para governar o Brasil.
A campanha do ex-governador
paulista apenas se iniciava, embora a perspectiva de vitória de
Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno já começasse a se
expressar nas pesquisas. Na longa e tonitruante "Carta aos eleitores do PSDB", Fernando Henrique volta à carga. No subtexto
está a luta de gerações e grupos
políticos, interna ao tucanato,
que não foi resolvida com a indicação do nome de Alckmin para
encabeçar a chapa presidencial.
É evidente o potencial desagregador da intervenção de FHC
para a candidatura do ex-governador paulista. Pregar ao futuro
do partido, permitir-se criticar
com acidez a estratégia eleitoral
tucana, denunciar, a esta altura,
falhas no encaminhamento da
questão Azeredo e na política de
segurança pública da gestão
Alckmin em São Paulo é como
supor que a atual disputa pela
Presidência esteja liquidada. É
como lançar-se na luta política
pela hegemonia no PSDB com
vistas à sucessão de 2010.
É verdade que o texto é tão sinuoso, atira para tantos lados,
que numa eventual recuperação
das chances de Alckmin, se poderá ler nele o germe anímico da
reação. Dificilmente, no entanto,
essa mais recente cartada de
FHC deixará de ser vista, seja
qual for o desempenho final do
candidato do PSDB em outubro,
como mais um torpedo a dinamitar pontes entre pelo menos três
grupos políticos na legenda.
Fernando Henrique fala por si,
defende o legado de seus oito
anos de governo -legado tido
como impopular e, pelo jeito, difícil de ser defendido por Alckmin. Mas a carta não é apenas
uma tentativa pessoal do ex-presidente de permanecer à tona a
partir de 2007. FHC também
busca manter a viabilidade da
chamada velha guarda tucana
nas disputas que se avizinham na
sigla. Quem encarna o projeto do
ex-presidente é José Serra.
Se as urnas reproduzirem o
que hoje dizem as pesquisas, haverá no PSDB dois pólos em condições de disputar a sucessão
presidencial daqui a quatro anos:
Serra, no governo paulista, e Aécio Neves, no mineiro.
O governador de Minas representa mais que uma aventura
pessoal ou um projeto partidário. Seu altíssimo índice de intenções de voto e seu arco de
alianças de amplitude ímpar o
credenciam como liderança ungida do segundo maior colégio
eleitoral. Sua vocação para minimizar inimizades e manter diálogo estreito com Lula -ainda
que não o leve a uma improvável
aliança com o presidente- abre-lhe o horizonte para um acúmulo
de forças de escala nacional.
Aécio Neves parece ser o alvo
estratégico de Fernando Henrique. Se a indicação de Serra para
o Planalto escapou pelos vãos
dos dedos do ex-presidente neste ano, uma derrota semelhante
em 2010 estaria muito próxima
de sepultar o seu grupo político.
Mas tudo muda -e aí está o
maior risco da cartada- se Alckmin surpreender e conseguir bater Lula em outubro. As exéquias
poderiam ser antecipadas.
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