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ANTONIO DELFIM NETTO
Preço do petróleo
UM PROBLEMA interessante
ainda não completamente
esclarecido é sobre o papel
dos "hedges funds" no aumento
dos preços do petróleo.
Vamos ter que esperar por uma
análise mais cuidadosa e uma exploração mais profunda das evidências para saber quem tem razão: se os que deduzem (teoricamente) que as transações nos mercados futuros não alteram os "fundamentais" e, portanto, não podem
influenciar o preço à vista; ou se a
razão está com os que dizem que a
coisa não é tão simples como sugere a "teoria".
Nenhum dos lados afirma que os
preços não são, basicamente, determinados pelos "fundamentais",
ou seja, o nível da demanda, o nível
da oferta e o nível de estoque. Apenas para reconhecer a importância
do "estoque", basta dizer que, para
manter o seu constante (o US Strategic Petroleum Reserve), o governo americano precisa de quase 100
mil barris por dia. As Forças Armadas dos EUA, por outro lado, consomem cerca de 350 mil barris por
dia. A soma dos dois é um pouco
menor do que o consumo da agora
tão lembrada Noruega...
Os preços do petróleo são fixados em duas Bolsas, a "New York
Mercantile Exchange" (NYMex) e
a "Intercontinental Exchange"
(ICE), de Londres. Elas são a referência para os dois produtos, o
"West Texas Intermediate" (WTI,
petróleo americano) e o "North Sea
Brent". Em 2006, em resposta ao
enorme aumento do preço do petróleo, a "Commodities Futures
Trading Commission" (CFTC),
que controla os mercados futuros
nos EUA para evitar "manipulações", decidiu permitir à ICE transacionar também o WTI e alguns
de seus derivados. Estabeleceu que
além das transações fora da Bolsa
("over-the-counter") já não controladas por ela, as feitas na ICE
(mesmo por operadores americanos) estavam também fora de sua
jurisdição. É este fato que sugere
que talvez as operações especulativas (que são normais para garantir
a liquidez dos mercados) tenham
assumido um papel excessivo na fixação do preço do petróleo devido
aos efeitos sobre as expectativas de
oferta e de procura.
No mesmo ano de 2006 (em julho), um comitê do Senado dos
EUA publicou um documento
("The Role of Market Speculation
in Rising Oil and Gas Prices") em
que se afirma que "especuladores
aplicaram dezenas de bilhões de
dólares no mercado de energia
contribuindo para elevar os seus
preços". O relatório estimava que
um terço do aumento dos preços
(naquele momento em torno de
US$ 60 por barril) era devido à especulação. Talvez a recente queda
dos preços se deva ao fato de que a
CFTC pôs, concretamente, a mão
em alguns fundos de hedges e espantou outros...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
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