São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

Preço do petróleo

UM PROBLEMA interessante ainda não completamente esclarecido é sobre o papel dos "hedges funds" no aumento dos preços do petróleo.
Vamos ter que esperar por uma análise mais cuidadosa e uma exploração mais profunda das evidências para saber quem tem razão: se os que deduzem (teoricamente) que as transações nos mercados futuros não alteram os "fundamentais" e, portanto, não podem influenciar o preço à vista; ou se a razão está com os que dizem que a coisa não é tão simples como sugere a "teoria".
Nenhum dos lados afirma que os preços não são, basicamente, determinados pelos "fundamentais", ou seja, o nível da demanda, o nível da oferta e o nível de estoque. Apenas para reconhecer a importância do "estoque", basta dizer que, para manter o seu constante (o US Strategic Petroleum Reserve), o governo americano precisa de quase 100 mil barris por dia. As Forças Armadas dos EUA, por outro lado, consomem cerca de 350 mil barris por dia. A soma dos dois é um pouco menor do que o consumo da agora tão lembrada Noruega...
Os preços do petróleo são fixados em duas Bolsas, a "New York Mercantile Exchange" (NYMex) e a "Intercontinental Exchange" (ICE), de Londres. Elas são a referência para os dois produtos, o "West Texas Intermediate" (WTI, petróleo americano) e o "North Sea Brent". Em 2006, em resposta ao enorme aumento do preço do petróleo, a "Commodities Futures Trading Commission" (CFTC), que controla os mercados futuros nos EUA para evitar "manipulações", decidiu permitir à ICE transacionar também o WTI e alguns de seus derivados. Estabeleceu que além das transações fora da Bolsa ("over-the-counter") já não controladas por ela, as feitas na ICE (mesmo por operadores americanos) estavam também fora de sua jurisdição. É este fato que sugere que talvez as operações especulativas (que são normais para garantir a liquidez dos mercados) tenham assumido um papel excessivo na fixação do preço do petróleo devido aos efeitos sobre as expectativas de oferta e de procura.
No mesmo ano de 2006 (em julho), um comitê do Senado dos EUA publicou um documento ("The Role of Market Speculation in Rising Oil and Gas Prices") em que se afirma que "especuladores aplicaram dezenas de bilhões de dólares no mercado de energia contribuindo para elevar os seus preços". O relatório estimava que um terço do aumento dos preços (naquele momento em torno de US$ 60 por barril) era devido à especulação. Talvez a recente queda dos preços se deva ao fato de que a CFTC pôs, concretamente, a mão em alguns fundos de hedges e espantou outros...

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ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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