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CLÓVIS ROSSI
São Paulo e a maldição
SÃO PAULO - Carlos Eduardo
Lins da Silva, o ombudsman desta
Folha, é uma pessoa a quem nós, os
pré-antigos, trataríamos como "cavalheiro de fino trato", elegante até
na linguagem.
Por isso, quando ele, na crítica interna do jornal, chamou São Paulo
de "cidade maldita", pensei baixinho: "a coisa está muito feia"
Outra demonstração da "feiura"
veio no texto de Rodrigo Fiume,
editor-assistente de Cotidiano,
que lamentava profundamente ter
saído de carro apesar da chuva que
caiu anteontem e pedia ao prefeito
Gilberto Kassab que fizesse "algo
nesta cidade maluca".
"Maldita", "maluca". Pobre São
Paulo, a São Paulo que já foi "a cidade que não pode parar".
Lamento desapontá-los, Carlos
Eduardo e Rodrigo Fiume, mas sou
mais antigo na arte de reconhecer
as maldições e maluquices de São
Paulo. Exemplo: em 1996, Duda
Mendonça, marqueteiro então a
serviço do malufismo, enchera a cidade de outdoors dizendo: "Não
deixe São Paulo parar".
Parado, completamente parado,
nos congestionamentos diários da
avenida 23 de Maio, olhava o slogan
do grande marqueteiro e pensava:
"Como São Paulo já parou, essa é a
típica propaganda enganosa".
O problema de São Paulo não é o
de parar por causa de uma chuva
excepcional como anteontem (parou ontem de novo, pelo menos de
manhã, sem chuva extraordinária).
O problema de São Paulo é que parou faz tempo. Antes, o nível de
congestionamento que autorizava
voltar para casa era inferior a 100
quilômetros. Foi subindo, subindo,
e hoje já está em 200, pouco mais,
pouco menos.
Está próximo o momento (maldito) em que nem sair do trabalho
os paulistanos sairão. Porque não
conseguirão chegar.
E nos acostumaremos bovinamente, como ocorreu quando caíram sobre a cidade -e sobre nós-
todas as "maldições" anteriores.
crossi@uol.com.br
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