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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O sigilo das vítimas
SÃO PAULO - Apesar da cobertura
intensa que TVs, rádios, revistas e
jornais têm feito do escândalo da
Receita, José Serra encontrou um
jeito de dizer, na segunda-feira, que
parte da imprensa ainda não havia
percebido a sua gravidade, mais
preocupada com os efeitos eleitorais do episódio do que com a violação dos sigilos, ela mesma. Bem...
Foi José Serra quem transformou
o caso na peça de resistência de sua
campanha. E isso tem menos a ver
com a gravidade do delito (que é
real) do que com o sufoco da candidatura tucana (igualmente real).
Se estivesse à frente de Dilma
Rousseff, com chances de derrotá-la no primeiro turno, Serra lançaria
mão do mesmo expediente? Daria
essa mesma visibilidade ao caso?
O fato é que Serra se viu compelido a abraçar a pauta udenista ("a
democracia está ameaçada pela delinquência do PT") porque percebeu que, sem ela, suas armas contra o lulismo haviam se exaurido.
O impacto eleitoral do episódio
ainda está por ser dimensionado.
Registre-se, porém, o seguinte: há
136 milhões de eleitores no país. E
há, este ano, algo como 25 milhões
de declarantes de Imposto de Renda. Ou seja: "IR" é uma sigla com
vago sentido para 80% do povo.
É um dado da realidade social
brasileira que tende a beneficiar a
candidata oficial, o que não torna a
violação do sigilo dos contribuintes
-qualquer um- menos repulsiva.
O escândalo enfim levou o presidente da República à TV. Mas ele
simplesmente nada disse sobre o
descalabro em seu governo, empenhado que estava apenas em vender sua pupila como vítima dos que
são "contra a mulher e o Brasil".
Entre o udenismo agonizante da
oposição e a patriotada sentimental
de Lula não é difícil perceber quem
"pode mais" no papel de vítima.
O PT vai empilhando vitórias políticas e derrotas morais. Ou dizer
isso perdeu o sentido? Se não violou também a gramática, a esquerda deveria pensar mais a sério na
naturalização da corrupção como
subproduto perverso do lulismo.
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