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EDUCAÇÃO E POPULISMO
O prefeito paulistano, Celso Pitta,
assinou decreto ampliando o ensino
fundamental (antigo 1º grau) de oito
para nove anos na cidade de São Paulo. A medida entra em vigor já em 99.
Trata-se, à primeira vista, de uma iniciativa muito meritória. Uma análise
menos superficial, no entanto, mostra que esse decreto pode redundar
em mais problemas do que soluções
para a educação das crianças.
Primeiro, a medida foi tomada sem
nenhuma articulação com os sistemas estadual e particular de ensino.
Hoje, o ensino fundamental começa
aos 7 anos de idade e, muito embora
o MEC pretenda ampliá-lo, incorporando crianças de 6 anos, isso não
pode ser feito isoladamente, sob risco de desorganizar a vida letiva de
milhares de estudantes.
Soma-se a este outro problema,
igualmente grave. A secretária da
Educação municipal, Hebe Tolosa,
afirma, em reportagem publicada
por esta Folha, que irá "usar professores da educação infantil e manter
alunos em salas de pré-escola onde
for necessário". Isso quer dizer que,
se assim proceder, a prefeitura estará
só renomeando a última série da
pré-escola, que passaria a integrar
apenas formalmente a primeira série
do ensino fundamental, sem que isso
represente nenhum ganho pedagógico. A prefeitura estaria com isso aumentando, em pelo menos 13%, o
volume de dinheiro federal que recebe hoje do fundão, destinado exclusivamente ao ensino fundamental.
Sabe-se, além disso, que a grande
maioria das escolas estaduais trabalha hoje apenas em dois turnos diurnos, enquanto as municipais operam
em sistema de três. As primeiras dão
a seus alunos uma média de cinco
horas de aula por dia; as segundas,
quatro. Mesmo com a proposta dos
nove anos, a rede municipal estaria
oferecendo ao longo do ciclo fundamental menos horas/aula que a rede
estadual em oito anos.
Isso basta para que se veja a iniciativa com muitas reservas. Parece sobrar populismo e faltar eficácia pedagógica nesse decreto de Pitta.
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