São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Em torno do Enem

SÃO PAULO - Ainda que nada grave aconteça até a data da nova prova, o vazamento do Enem já deixou um saldo negativo pesado para o país -a começar pelo transtorno na vida de milhões de jovens, brutalmente frustrados na véspera de um momento para o qual devem ter dedicado boa parte de suas energias e expectativas nos últimos meses.
O fato de instituições de ensino superior da relevância da USP e da Unicamp, entre outras, desistirem de usar o exame como parte de seu processo seletivo já neste ano obviamente esvazia seu alcance, à luz do que dele todos esperavam.
Também está claro que o ministro Fernando Haddad, embora conduza bem a crise, pagará um preço político pela imprudência do MEC.
Seria muito pior, porém, se a gatunagem tivesse como consequência o descrédito do exame a médio prazo. Não parece ainda ser o caso.
O Enem representa um avanço. É recente no país o consenso de que o ensino deve ser submetido a critérios de avaliação universais e mensuráveis. Há mais ou menos dez anos, o PT, que hoje está no poder, investigando os ladrões da prova, queria eliminar do processo pedagógico exames como o Provão.
Mudamos. Criado por FHC e ampliado por Lula, o Enem nos deu uma noção mais precisa do abismo entre as redes pública e privada de ensino. Para tentar sair do buraco, é preciso conhecer seu tamanho.
É verdade que o ranking das escolas tem estimulado um certo darwinismo pedagógico entre instituições de ponta na esfera particular, mais voltadas para o exame do que para o próprio ensino. Mas, se este é um subproduto nocivo do Enem, ele não compromete os méritos maiores de um instrumento que responsabiliza as escolas pelo desempenho dos alunos e deve democratizar o acesso à universidade.
A educação brasileira ainda está próxima da tragédia. Basta dizer, entre tantas vergonhas, que mais de 1 milhão de professores, da educação infantil ao ensino médio, não têm diploma universitário. O retrato permanece muito feio; o filme, no entanto, já foi bem pior.


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