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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Em torno do Enem
SÃO PAULO - Ainda que nada grave aconteça até a data da nova prova, o vazamento do Enem já deixou
um saldo negativo pesado para o
país -a começar pelo transtorno na
vida de milhões de jovens, brutalmente frustrados na véspera de um
momento para o qual devem ter dedicado boa parte de suas energias e
expectativas nos últimos meses.
O fato de instituições de ensino
superior da relevância da USP e da
Unicamp, entre outras, desistirem
de usar o exame como parte de seu
processo seletivo já neste ano obviamente esvazia seu alcance, à luz
do que dele todos esperavam.
Também está claro que o ministro Fernando Haddad, embora conduza bem a crise, pagará um preço
político pela imprudência do MEC.
Seria muito pior, porém, se a gatunagem tivesse como consequência o descrédito do exame a médio
prazo. Não parece ainda ser o caso.
O Enem representa um avanço. É
recente no país o consenso de que o
ensino deve ser submetido a critérios de avaliação universais e mensuráveis. Há mais ou menos dez
anos, o PT, que hoje está no poder,
investigando os ladrões da prova,
queria eliminar do processo pedagógico exames como o Provão.
Mudamos. Criado por FHC e ampliado por Lula, o Enem nos deu
uma noção mais precisa do abismo
entre as redes pública e privada de
ensino. Para tentar sair do buraco, é
preciso conhecer seu tamanho.
É verdade que o ranking das escolas tem estimulado um certo darwinismo pedagógico entre instituições de ponta na esfera particular,
mais voltadas para o exame do que
para o próprio ensino. Mas, se este é
um subproduto nocivo do Enem,
ele não compromete os méritos
maiores de um instrumento que
responsabiliza as escolas pelo desempenho dos alunos e deve democratizar o acesso à universidade.
A educação brasileira ainda está
próxima da tragédia. Basta dizer,
entre tantas vergonhas, que mais de
1 milhão de professores, da educação infantil ao ensino médio, não
têm diploma universitário. O retrato permanece muito feio; o filme,
no entanto, já foi bem pior.
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