São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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RUY CASTRO

Mais títulos

RIO DE JANEIRO - Na coluna de quarta última, ao falar da incurável mania dos jornalistas de usar títulos de filmes para intitular matérias, temo ter sido meio rigoroso. Na verdade, não importava que o título saísse de um filme. Só tinha de ser bom. E alguns eram magníficos.
Na "Manchete" dos anos 80, Celso Arnaldo Araújo fez uma reportagem sobre uma novidade, o videocassete, que ameaçava prender as pessoas em casa e afastá-las dos cinemas. Ao terminar o texto, inverteu o título de um filme nacional e sapecou: "Videocassete - Matou o cinema e foi à família". Outro muito bom, tirado do filme "Pequeno Grande Homem" e atribuído a Raul Giudicelli, tratava de um paranormal gaúcho, por acaso anão: "Pequeno grande médium".
Nos que independiam do cinema, "Manchete" era também quase imbatível. Um clássico foi o de Carlos Heitor Cony para uma matéria sobre um falsário preso em São Paulo. Como o homem se negasse a recebê-lo, Cony inventou a entrevista e intitulou-a: "Entrevista de mentira com um falsário de verdade".
"Fatos & Fotos", irmã caçula da "Manchete", também admitia brilharecos. Em 1967, o ditador chinês Mao Tsé-tung andou sumido e suspeitou-se de que estivesse morto. Até que reapareceu e, para mostrar que vendia saúde, mergulhou no rio Yang-tsé. Título maravilhosamente dúbio: "Nada bem o velho Mao".
Mas, para mim, os dois melhores daquele tempo saíram em "O Globo". Em 1982, dom Ivo Lorscheiter estava num avião e, temendo por sua fé, recusou-se a ir à janela ver uma estranha luz que os passageiros juravam ser um disco voador. O saudoso Chico Nelson decretou: "Ivo não viu o Ovni". E o outro, de Guilherme Cunha, em 1976, quando o mesmo Mao, enfim morto, foi sucedido pelo nº 2 na hierarquia, Lin Piao: "China vai de Mao a Piao".


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