São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Rudimentar

BRASÍLIA - Um governo que impõe juros de 19% ao ano e um superávit fiscal de 6,1% merece ouvir poucas e boas. O curioso é ouvi-las da própria ministra da Casa Civil. E em público!
Dilma Rousseff arrasou na entrevista publicada ontem pelo "Estado de S. Paulo", em que classificou de "rudimentar" o plano de ajuste fiscal de longo prazo proposto pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o beneplácito do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Politicamente, até se pode questionar Dilma pela oportunidade (ou falta de). Afinal, o governo apanha de três CPIs, o ministro da Fazenda está às voltas com mil suspeitas dos tempos de Ribeirão Preto e o próprio antecessor de Dilma pode ser cassado a qualquer momento na Câmara.
Mas, economicamente, a fala de Dilma é bom material de reflexão. Estabilidade, sim. Mas sem desenvolvimento?! Planejamento de longo prazo, sim. Mas sem levar em conta as necessidades de 180 milhões de pessoas -de educação, de saúde, de estradas, de habitação?!
Palocci e Bernardo só pensam naquilo: ajuste fiscal, arrocho, contas. E Dilma quer ampliar horizontes: crescimento, investimento, empregos. O desempate tem de ser do presidente, que, aliás, vai disputar a reeleição em 2006. Mas esse parece que ainda não entendeu a profundidade da coisa nem tem paciência para se meter na briga interna, já escancarada pela imprensa há um tempinho.
Os repórteres perguntaram a Dilma o que Lula acha do plano de Bernardo. Ela: "O presidente Lula não acha nada, porque esse programa nem foi colocado. Ele não participou de nenhuma discussão". Tentou desmerecer o plano, desmereceu Lula.
Dilma, portanto, confirmou várias coisas de uma tacada só: é dura na queda, o pau está comendo, Lula não acha nada de nada e a maior ameaça ao governo é o "fogo amigo".
Logo logo vai aparecer alguém dando o diagnóstico dessa nova crise: mais um golpe das elites! E em con- luio com a imprensa...

@ - elianec@uol.com.br


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