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ELIANE CANTANHÊDE
Rudimentar
BRASÍLIA - Um governo que impõe juros de 19% ao ano e um superávit
fiscal de 6,1% merece ouvir poucas e
boas. O curioso é ouvi-las da própria
ministra da Casa Civil. E em público!
Dilma Rousseff arrasou na entrevista publicada ontem pelo "Estado
de S. Paulo", em que classificou de
"rudimentar" o plano de ajuste fiscal
de longo prazo proposto pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o beneplácito do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci.
Politicamente, até se pode questionar Dilma pela oportunidade (ou falta de). Afinal, o governo apanha de
três CPIs, o ministro da Fazenda está
às voltas com mil suspeitas dos tempos de Ribeirão Preto e o próprio antecessor de Dilma pode ser cassado a
qualquer momento na Câmara.
Mas, economicamente, a fala de
Dilma é bom material de reflexão.
Estabilidade, sim. Mas sem desenvolvimento?! Planejamento de longo
prazo, sim. Mas sem levar em conta
as necessidades de 180 milhões de
pessoas -de educação, de saúde, de
estradas, de habitação?!
Palocci e Bernardo só pensam naquilo: ajuste fiscal, arrocho, contas. E
Dilma quer ampliar horizontes: crescimento, investimento, empregos. O
desempate tem de ser do presidente,
que, aliás, vai disputar a reeleição em
2006. Mas esse parece que ainda não
entendeu a profundidade da coisa
nem tem paciência para se meter na
briga interna, já escancarada pela
imprensa há um tempinho.
Os repórteres perguntaram a Dilma
o que Lula acha do plano de Bernardo. Ela: "O presidente Lula não acha
nada, porque esse programa nem foi
colocado. Ele não participou de nenhuma discussão". Tentou desmerecer o plano, desmereceu Lula.
Dilma, portanto, confirmou várias
coisas de uma tacada só: é dura na
queda, o pau está comendo, Lula não
acha nada de nada e a maior ameaça ao governo é o "fogo amigo".
Logo logo vai aparecer alguém
dando o diagnóstico dessa nova crise:
mais um golpe das elites! E em con-
luio com a imprensa...
@ - elianec@uol.com.br
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