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São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Editoriais

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"Who cares?"

PSDB e PT têm sido, nas últimas duas décadas, os dois partidos mais substantivos no desolador panorama da política brasileira.
Quando exerceram o poder federal, no governo FHC (1995-2002), os tucanos introduziram um novo padrão de racionalidade administrativa. Implantaram o plano que debelou a inflação, contribuíram para modernizar a economia e lançaram as bases dos programas de transferência de renda.
Ao mesmo tempo, sociais-democratas (tucanos) e socialistas (petistas) passaram a ocupar posição muito próxima no espectro ideológico, conforme estes últimos abandonavam toda estratégia revolucionária e adotavam uma visão realista sobre a economia. Repetiu-se, aqui, a convergência para o centro que já acontecia em boa parte do mundo.
Não é de estranhar que o PT tenha incorporado a política que antes repudiava: sua vitória nas urnas decorreu dessa aproximação ao centro. Ao estender a cobertura social ainda incipiente e sustentar inflação e crescimento em índices melhores que os do antecessor, obteve até agora três mandatos presidenciais.
O êxito popular dos adversários jogou o tucanato numa crise de identidade. Na tentativa de superá-la, o Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do partido, organizou segunda-feira no Rio um encontro para discutir os rumos da agremiação.
Criticaram-se o aparelhamento da máquina governamental e a leniência com a corrupção nos governos petistas. Apontaram-se o favorecimento de conglomerados econômicos e a persistência dos juros altos. Isso é papel da oposição, decerto, mas não resolve o dilema existencial do PSDB.
Parece existir uma demanda latente à direita do partido, lastreada nos setores mais empreendedores da economia e que encontra eco no conservadorismo disperso pelas classes sociais.
Também é notório que parcela crescente do eleitorado repele os políticos em bloco e anseia por uma renovação que vá além de slogans, como o "Yes, we care" (Sim, nós cuidamos), paródia do ex-presidente Fernando Henrique sobre o "Yes, we can" (Sim, nós podemos) do presidente Obama.
Dividido pelas ambições personalistas de sempre, sem disposição de praticar uma política interna de prévias que lhe dê mais enraizamento, o PSDB parece de fato à deriva.
E, em tempos de descrédito dos políticos, a brincadeira do ex-presidente poderia suscitar a ironia de um cético: afinal, "who cares?" (quem se importa?).


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