São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011 |
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CARLOS HEITOR CONY O abuso das algemas RIO DE JANEIRO - Não acompanhei o caso da morte de Michael Jackson em seus detalhes, tampouco me emocionei com o resultado do julgamento do médico Conrad Murray na última segunda-feira. Ele foi condenado em primeira instância porque estava ausente do quarto onde o cantor, já devidamente dopado, tomou uma overdose do remédio que o matou. Que houve culpa do médico é evidente: sabendo da situação, ele deveria estar junto ao leito do artista ou ter retirado o remédio de seu alcance. Daí a acusação de homicídio culposo. Tudo bem, a justiça foi feita, pelo menos em sua primeira etapa. O que não compreendi foi o ritual dos guardas logo após a leitura da sentença: algemaram o médico. Em nenhum momento ele ameaçou fugir, agredir quem quer que fosse, não tinha antecedentes criminais e estava sendo julgado por homicídio não qualificado, com direito a apelação. Compreende-se a condenação, mas não a violência das algemas. Se mais tarde for absolvido, ele terá sido vítima de um ritual judiciário-policial, completamente desnecessário no caso dele. Não sei por que me lembrei do acidente daquele avião da Air France que caiu no oceano Atlântico na rota Rio-Paris. O piloto estava fora da cabine na hora do perigo e, certamente, nada poderia ter feito para evitar o desastre, mas sua obrigação era estar no comando. A tradição profissional, tanto dos comandantes como dos médicos, aconselha o responsável pelas emergências a permanecer em seus postos até que a crise passe ou tenha solução final. No caso de Conrad Murray, ele acompanhava o cantor havia tempos, era de sua confiança. Não seria cúmplice de um suicídio assistido. Mas sua presença naquele quarto poderia ter impedido a overdose. De qualquer forma, mesmo condenado, não merecia as algemas. Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O ministro pesadão Próximo Texto: Kenneth Maxwell: Os oligarcas Índice | Comunicar Erros |
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