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BRASIL SÓ
A estratégia brasileira de enfrentar melhor a globalização
com o Mercosul está ameaçada.
O Chile, que negociava a adesão
plena ao Mercosul, do qual é hoje
apenas associado, anunciou na semana passada sua opção preferencial por um acordo com os EUA.
No próprio Mercosul, a crise da Argentina colocou esse país vizinho
numa situação de tamanha vulnerabilidade externa que a integração regional também deixa de ser prioridade, deslocada pelo imperativo do alinhamento com o FMI.
Sem poder para ser líder regional,
talvez não reste opção à diplomacia
brasileira senão recuar para, mais
adiante, nas negociações da Alca
(Área de Livre Comércio das Américas), tentar exercer maior influência.
Resta saber quais seriam as medidas
que, nesse sentido, poderiam ser
adotadas pelo Brasil.
De um lado estão os adeptos da liberalização unilateral, hegemônicos
na política econômica brasileira na
última década. Acreditam que a globalização não só é um processo irreversível, mas que também esmaga os
que tentam opor-lhe resistência.
Nessa visão, quanto maior o alinhamento da política econômica às
expectativas dos investidores e credores estrangeiros, maior a credibilidade do país e, portanto, seu potencial de desenvolvimento econômico.
Ainda sob a ótica ultraliberal, ações
de governo e sistemas políticos regionais apenas criariam ruídos, burocracia e corrupção. Projetos como
o do Mercosul, por exemplo, seriam
só uma interferência no funcionamento eficiente dos mercados. Assim, em vez de postular uma reorganização das defesas econômicas do
Brasil, os ultraliberais pressionam
por nova rodada de abertura, com redução de tarifas de importação e adesão mais rápida à Alca. Acreditam ingenuamente que o país seria recompensado com maior acesso ao mercado norte-americano.
Contra essa corrente, atuando em
alguns setores do governo federal e
na periferia da aliança governista, estão os defensores de uma estratégia
nacional de desenvolvimento. Além
disso, ganha mais força a constatação de que as políticas comerciais e
financeiras dos últimos anos aumentaram a fragilidade do Estado, a dependência externa e a crise social.
Os críticos da ortodoxia ultraliberal
não vêem a ordem econômica internacional como um processo harmonioso. Ao contrário, entendem que a
globalização é um jogo competitivo.
Nesse enfrentamento, os mais bem-sucedidos, tanto no Primeiro Mundo
quanto nos países em desenvolvimento mais avançados, lançam mão
de políticas de Estado para enfrentar
a competição.
Entre elas incluem-se medidas de
apoio setoriais, colaboração entre
agências do governo e iniciativa privada, políticas de financiamento que
privilegiam empresas nacionais e incentivos fiscais aliados a políticas
científicas e tecnológicas.
Projetos como o do Mercosul podem ser úteis para influenciar o jogo
da competição global, evitando a
adesão passiva às pressões dos países mais ricos e dando chances ao
fortalecimento de empresas de países em desenvolvimento. O Mercosul é, portanto, crucial, mas só tem
sentido no âmbito de uma visão estratégica do desenvolvimento.
Corre-se, no entanto, o risco, no final do governo FHC, de uma nova
ofensiva ultraliberal nas políticas comercial e financeira, inspirada no alinhamento preferencial do Ministério
da Fazenda e do Banco Central às
orientações do FMI e da comunidade
financeira internacional. Risco, aliás,
que o presidente não ignora, pois reconheceu que a globalização é um
processo desigual.
Contra essa ameaça, o que falta não
é a formulação de políticas alternativas, mas a mobilização social e política dos setores que ainda acreditam
na viabilidade de uma estratégia nacional de desenvolvimento.
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