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NELSON MOTTA
Brasil para principiantes
RIO DE JANEIRO - No Brasil, empresários nunca estão preocupados em
ter lucros, mas em "gerar empregos".
Aqui os partidos políticos não querem cargos e vantagens, mas apenas
"garantir a governabilidade".
Há sem-terra, com-casa e com-carro. E clientes do Bolsa-Escola que não
vão às aulas.
Aqui, a Igreja Católica se mete em
tudo, divórcio, aborto, gays, Aids e sexo e até promove plebiscito para "o
povo" escolher se devemos pagar ou
não a dívida externa, mas, se evangélicos também falam em nome de
Deus, logo gritam para não misturar
política e religião.
Um pastor-deputado carioca propôs uma lei para usar dinheiro público na "recuperação" de gays arrependidos.
Aqui as indenizações às vitimas da
ditadura são pagas pelos impostos
dos que a sofreram, não dos que perseguiram, torturaram e mataram.
Em compensação, os pagadores de
impostos são chamados de "contribuintes", quase como se fosse facultativo. O senhor poderia contribuir? Liga no mês que vem, minha filha.
Nesta terra abençoada, o jogo do
bicho e os cassinos são proibidos e todos os outros -quase todos bancados pelo Estado- liberados.
Aqui, um governo de esquerda, sério e honesto, implora para se aliar a
Jader Barbalho, Orestes Quércia,
Newton Cardoso, ACM, Paulo Maluf
e Joaquim Roriz.
Neste rincão, políticos ficam indignados quando não são previamente
avisados de ações da Polícia Federal.
É aqui que, depois reeleito triunfalmente, o prefeito Cesar Maia deu
uma banana ao eleitorado e apresentou Otávio não-sei-o-quê como futuro prefeito do Rio.
Aqui acusaram Tom Jobim de
americanizado, de vendido a Tio
Sam, de cantar para o imperialismo
ianque. E ele disse aos invejosos e ressentidos que no Brasil sucesso é ofensa pessoal.
Tudo faz sentido, já que no Brasil
traficantes cheiram, policiais assaltam e prostitutas gozam.
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