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ELIANE CANTANHÊDE
Exaustão
BRASÍLIA - Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia e
Rafael Correa no Equador elegeram-se atropelando os partidos tradicionais, inventando suas próprias
siglas e prometendo convocar constituintes para começar tudo de novo e governar para a maioria espoliada. São resultado de uma relação
de causa e efeito: a ganância das elites e a exaustão das instituições, em
especial do Congresso.
Correa, 43, eleito no mês passado, é economista, professor universitário e líder do movimento extrapartidário "Equador Alternativo".
Alternativo a quê? À pobreza, à dolarização, a um caos político que gerou nove presidentes em dez anos.
Quatro meses antes, ninguém apostava que ele ficaria entre os primeiros colocados. E ele ganhou. Ganhou, aliás, do dono da maior fortuna do país, Álvaro Noboa.
Esses são exemplos a serem observados, quando as instituições
brasileiras, em especial o Congresso, surpreendem -ou horrorizam.
O eleitor jogou para dentro, como
mais votados, Maluf, Clodovil e notórios mensaleiros. E empurrou para fora experientes constituintes de
1988. É a "renovação".
O Congresso escorre ladeira abaixo, o Judiciário empaca na discussão sobre seus salários e o governo
voa na crise do setor aéreo. Projeto
de país? Plano para crescer 5% e gerar empregos? "Espetáculo de crescimento"? Isso ninguém tem.
Com Collor, que caiu, comemorou-se a solidez da democracia.
Com Lula, que se reelegeu, lamenta-se a fragilidade das instituições.
Que país é esse, maduro para suportar sem traumas a queda do presidente, mas imaturo para viver, dez
anos depois, a normalidade?
É hora de perguntar quem vai ser
o Rafael Correa brasileiro -fora de
partidos tradicionais, pronto a enfrentar a "máfia política", convocar
uma constituinte e enfrentar a desigualdade. O que equivale ao elementar "governar para a maioria".
Depois, é só saber se dá certo.
elianec@uol.com.br
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