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O auge de um ciclo
Desafio do país é evitar a queda acentuada dos investimentos, que cresciam com vigor até a véspera da crise global
O RITMO de expansão da
economia brasileira
aumentou no terceiro
trimestre, segundo o
IBGE. A alta de 1,8% sobre o segundo trimestre do ano -equivalente a uma taxa anualizada,
notação usada nos EUA, de quase 7,5%- é apenas 0,2 ponto percentual maior que a verificada no
trimestre anterior. Ainda assim,
a aceleração é notável, por ter superado uma taxa que já era, historicamente, elevada.
Em todas as comparações, os
resultados são robustos. Nos 12
meses entre outubro de 2007 e
setembro de 2008, a produção de
bens e serviços cresceu 6,3%.
Nos nove primeiros meses deste
ano, o desempenho foi de 6,4%.
No terceiro trimestre deste ano,
em relação ao mesmo período do
ano passado, a taxa atingiu 6,8%.
Tamanho dinamismo -um
contraste com a desaceleração
que já batia à porta das principais
economias do planeta nessa época- foi liderado pela chamada
formação bruta de capital fixo
(FBCF): investimentos das empresas e construção civil. O item
subiu 19,7% em relação ao terceiro trimestre de 2007. Os dados
mostram também que esses dispêndios de capital vinham crescendo de janeiro até setembro.
Com isso, a taxa de investimento -isto é, a relação entre a
FBCF e o PIB (Produto Interno
Bruto)- alcançou 20,4% entre
julho e setembro, valor recorde
para um terceiro trimestre na série iniciada em 2000. Nações que
sustentam taxas de investimento acima de 20% do PIB costumam ostentar longos ciclos de
crescimento econômico.
Embora a expansão dos gastos
em capacidade produtiva impulsione a demanda no curto prazo,
conforme esses investimentos
amadurecem eles aumentam o
estoque de capital disponível,
bem como a produtividade da
economia como um todo. Por
conseguinte, o potencial de crescimento futuro, sem pressão inflacionária, se amplia.
Infelizmente, no entanto, essas transformações auspiciosas
na estrutura produtiva mostram
sinais de abrupta inflexão após o
contágio da crise financeira internacional. Os dados do terceiro
trimestre, associados a algumas
cifras já conhecidas do último
quarto do ano, parecem prenunciar o fim -além do auge- de um
ciclo de crescimento que havia
décadas não se verificava.
A perspectiva para o quarto trimestre de 2008 e para 2009 mudou radicalmente. Daí a necessidade de atitudes, por parte das
autoridades, destinadas a evitar
um declínio acentuado nos dispêndios de capital, quer do setor
público, quer do privado.
Para preservar os investimentos em infra-estrutura, os governos precisam interromper a escalada dos gastos com a manutenção da máquina pública, que
registraram alta de 6,4% no trimestre passado. Sem uma intervenção sistemática nesses dispêndios, a retomada do crescimento, após o fim da crise, será
postergada e prejudicada.
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