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ANTONIO DELFIM NETTO
- 0,25%, por favor
O EXTRAORDINÁRIO apoio
da população brasileira ao
presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, registrado pela pesquisa
Datafolha da semana passada, é o
reconhecimento de que sua reação
intuitiva à catástrofe mundial é
mais confortadora e, no fundo,
mais adequada do que o "realismo
terrorista" proposto por alguns sábios. Certamente não é uma "marolinha". Mas por que o Brasil precisa sofrer, necessariamente, um
"tsunami" devastador?
É hora de os economistas reconhecerem e aceitarem com humildade: 1º) que o bacilo produtor desta crise foi cuidadosamente criado
e cultivado nos laboratórios de
uma pseudociência -parte da economia-financeira-, com sua pretensão de que tinha "descoberto"
modelos estocásticos capazes de
precificar qualquer risco; 2º) que
sua disseminação foi feita pelos
perversos incentivos apropriados
pelos que vendiam tal "ciência"
graças à confiança que os compradores de papéis (o aplicador, o chamado "principal") depositavam
nos vendedores (o banco de investimento, o chamado "agente") e 3º)
que os Bancos Centrais do mundo
(nos quais o "principal" depositava
sua confiança na fiscalização do
"agente") surfaram alegremente a
onda de liqüidez que ajudaram a
criar com sua política monetária
laxista e sua falta de fiscalização
das possíveis conseqüências dos
"novos" produtos. Nisto foram
acompanhados pelas agências de
risco e pelos auditores privados.
A conseqüência deste triste diagnóstico é que nem a política monetária nem a política fiscal podem
alterar a situação enquanto não se
restabelecer o fator catalítico que
sustenta o funcionamento dos
mercados: a confiança.
Manter a liqüidez do sistema financeiro é importante, mas ela não
leva ninguém a tomar emprestado
(o consumidor ou investidor) ou a
emprestar (a instituição financeira): todos sabem que se pode levar
o burro à fonte, mas não se pode
obrigá-lo a beber. Manter uma política fiscal que sustente os investimentos públicos e reduza a carga
tributária é importante, mas incapaz de estimular o investidor privado ou o consumidor a abdicarem
da sua liqüidez enquanto não acreditarem que haverá demanda e
emprego no futuro.
É hora de reconhecer que a política econômica teve responsabilidade pela crise, mas que, por si
mesma, ela é incapaz de resolvê-la,
uma vez que sua causa fundamental está fora da economia. Trata-se
de restabelecer a confiança da sociedade no funcionamento dos
mercados para que as políticas monetária e fiscal possam voltar a funcionar. É por isso que uma redução
da taxa Selic de 0,25% seria psicologicamente importante. E tecnicamente recomendável.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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