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Medo da tesoura
Lula se vê como presa do monstro que ajudou a alimentar: é muito difícil cortar despesas com 90% de gastos obrigatórios
CADA MINISTRO que sai de
uma conversa particular
com o presidente Lula é
um colosso de esperança. Deixa o Planalto espalhando a
convicção de que na sua área não
vai haver cortes, pois ali só há
despesas sociais, investimentos
estratégicos. Quando a tesoura
se aproxima, até o dinheiro do
cafezinho se torna verba social.
Como essenciais e imunes à
navalha orçamentária também
se afirmam várias categorias de
servidores que vislumbram aumento de dotação neste ano. "O
governo reconhece nossa defasagem salarial, mas fica com essa
desculpa da CPMF", diz o representante da Advocacia Pública. O
comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, segue a trilha: "O governo reconhece a necessidade
de reajuste dos militares; tenho
certeza de que vai sair".
Mais criativo é o argumento do
líder dos fiscais da Receita: "Não
pode jogar isso nos auditores,
que vão ser responsáveis por arrecadar R$ 10 bilhões a mais". E
as promessas de greve pipocam
na mesma toada. Um sindicalista
da CUT já ameaça Lula com a
sexta greve de servidores em seu
mandato e diz que o governo tem
"gordura para queimar" -mas,
claro, "em outros lugares".
O operador da motosserra,
Paulo Bernardo, do Planejamento, definiu bem o clima que toma
conta da máquina federal nos
momentos que antecedem a definição dos cortes. "As pessoas de
maneira geral tendem a achar
que é excelente fazer corte, mas
no outro lado da rua, no prédio
vizinho, no outro Poder."
Os servidores que tiveram algum aceno do governo sobre aumento de salários ou verbas têm
do que reclamar. Perceberam
que a gestão Lula prometeu o
que não tinha. Contou com R$
40 bilhões anuais a serem sacados do contribuinte, mas se esqueceu de colocar um asterisco
nos acordos: se a CPMF for renovada. Esse misto de empáfia e irresponsabilidade foi exemplarmente derrotado no Senado, na
madrugada de 13 de dezembro.
A onda de lamúrias serve também como testemunho de que o
governo Lula não dava a mínima
importância ao imperativo de
controlar as despesas públicas
permanentes. A aprovação da
CPMF teria dado ensejo a uma
nova rodada de engessamento
orçamentário, prejudicando ainda mais o contribuinte, os investimentos públicos e a geração de
renda e emprego no país.
Agora Lula se vê como presa do
monstro que ajudou a alimentar:
é muito difícil cortar despesas
quando o índice de desembolsos
obrigatórios ronda 90%. No curto prazo, é preciso anular todo
gasto corrente novo -aí incluídos os aumentos salariais. Ou o
governo enfrenta as tremendas
pressões que virão, ou não restará margem para os inadiáveis investimentos em infra-estrutura.
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