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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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COTAS E NADA MAIS

A simplicidade com que alguns formuladores de política pública enxergam o mundo por vezes leva a situações inusitadas. É o caso da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que implantou um sistema de cotas para a admissão de candidatos que provieram de escola pública e/ou que se autodeclararam negros ou pardos. A Uerj se apercebeu de que, sem uma estrutura de apoio aos estudantes mais carentes, o sistema de cotas corre o risco de se tornar um factóide que alimenta os fenômenos de evasão escolar e deficiência de aprendizado.
No Brasil, a política pública para inclusão social por vezes prefere os passos de maior impacto midiático ao trabalho de base. Cotas não vão sanar o déficit de formação acumulado pelo aluno. Tampouco garantirão a permanência do estudante pobre durante anos em cursos que não raro exigem dedicação integral. É como se o problema de consciência dos legisladores estivesse resolvido com a presença de alunos pobres na lista de aprovados do vestibular.
Uma política efetiva para o ingresso de jovens carentes nas boas universidades deveria começar no ensino médio, com a melhoria de sua qualidade e a disseminação de cursos pré-vestibulares para essa faixa de renda. Ao jovem cuja família não tivesse condições de sustentá-lo durante o curso deveria ser garantido um estipêndio mínimo, que poderia ser a contrapartida de um serviço acadêmico ou comunitário.
Mas começou-se a construir a casa pelo telhado, com uma política de cotas mal-ajambrada, o que avilta o princípio do mérito, que deveria nortear a vida universitária. No vestibular da Uerj, os aprovados pelo sistema especial conseguiram entrar com médias inferiores (em alguns casos gritantemente inferiores) às dos que concorreram no modelo tradicional.
É preciso agregar mais racionalidade ao debate sobre cotas por mais que alguns áulicos do politicamente correto não hesitem em tachar de racista qualquer crítica ao sistema.


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