São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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Sem dó nem piedade

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Não tem TV Senado, TV Câmara, grito de Antonio Carlos Magalhães, declaração de Michel Temer e quinhentas campanhas de marketing que possam preservar a imagem do Congresso de algo devastador: a existência de parlamentares acusados de racismo, corrupção e assassinatos.
A opinião pública jamais vai entender o princípio constitucional da im(p)unidade, pelo qual deputados e senadores podem matar a mãe em público porque só são julgados se os colegas de Congresso deixarem.
É um escândalo que sobrevive quase 15 anos depois do fim da ditadura militar e se perpetua sob falsas premissas democráticas.
Apoio para a mudança não falta. Na pesquisa CNT-Vox Populi divulgada ontem, 90% desaprovaram a imunidade, apenas 6% aprovaram e o resto simplesmente não soube responder.
Enquanto isso, continuamos convivendo com coisas assim: Talvane Albuquerque (PFL-AL) foi indiciado pela polícia de Alagoas como mentor de uma chacina, Hildebrando Pascoal (PFL-AC) é acusado de assassinatos e torturas, Paulo Marinho (PFL-MA) foi condenado por improbidade administrativa e Remi Trinta (PL-MA) foi detido sob acusação de racismo. Mas são todos deputados federais.
Apenas 4 em 513 têm um currículo suficientemente desabonador para colocar na berlinda toda a instituição Congresso. Isso só reforça a fama de que "nenhum político presta", "é tudo bandido", essas coisas que a gente sempre ouve por aí.
Além disso, se a polícia e a Justiça procurarem bem, podem acabar encontrando mais. Agora mesmo, a bancada paulista sussurra que os novos deputados Nelo Rodolfo e José Índio, do PPB, eram vereadores do mesmo grupo mergulhado até a alma na máfia da propina de São Paulo.
No ano passado, muitos apostavam que o deputado Sérgio Naya não seria cassado. Foi. Foi porque o Congresso se viu diante do "é ele ou eu".
Para evitar ataques e votações desesperadas como a de Naya, só tem um jeito: acabar com a imunidade. Será péssimo para os bandidos, mas muito bom para a instituição.


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