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Sem dó nem piedade
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Não tem TV Senado, TV
Câmara, grito de Antonio Carlos Magalhães, declaração de Michel Temer e
quinhentas campanhas de marketing
que possam preservar a imagem do
Congresso de algo devastador: a existência de parlamentares acusados de
racismo, corrupção e assassinatos.
A opinião pública jamais vai entender o princípio constitucional da
im(p)unidade, pelo qual deputados e
senadores podem matar a mãe em público porque só são julgados se os colegas de Congresso deixarem.
É um escândalo que sobrevive quase
15 anos depois do fim da ditadura militar e se perpetua sob falsas premissas
democráticas.
Apoio para a mudança não falta. Na
pesquisa CNT-Vox Populi divulgada
ontem, 90% desaprovaram a imunidade, apenas 6% aprovaram e o resto
simplesmente não soube responder.
Enquanto isso, continuamos convivendo com coisas assim: Talvane Albuquerque (PFL-AL) foi indiciado pela polícia de Alagoas como mentor de
uma chacina, Hildebrando Pascoal
(PFL-AC) é acusado de assassinatos e
torturas, Paulo Marinho (PFL-MA)
foi condenado por improbidade administrativa e Remi Trinta (PL-MA) foi
detido sob acusação de racismo. Mas
são todos deputados federais.
Apenas 4 em 513 têm um currículo
suficientemente desabonador para colocar na berlinda toda a instituição
Congresso. Isso só reforça a fama de
que "nenhum político presta", "é tudo
bandido", essas coisas que a gente
sempre ouve por aí.
Além disso, se a polícia e a Justiça
procurarem bem, podem acabar encontrando mais. Agora mesmo, a bancada paulista sussurra que os novos
deputados Nelo Rodolfo e José Índio,
do PPB, eram vereadores do mesmo
grupo mergulhado até a alma na máfia da propina de São Paulo.
No ano passado, muitos apostavam
que o deputado Sérgio Naya não seria
cassado. Foi. Foi porque o Congresso
se viu diante do "é ele ou eu".
Para evitar ataques e votações desesperadas como a de Naya, só tem um
jeito: acabar com a imunidade. Será
péssimo para os bandidos, mas muito
bom para a instituição.
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