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CLÓVIS ROSSI
O Brasil real e o Afeganistão
SÃO PAULO - Informa a ONU: "Os
indicadores do Brasil em saneamento básico são, na área urbana,
inferiores aos de países como Jamaica, República Dominicana e
Territórios Palestinos ocupados".
Sim, é isso que você leu: pior do que
na Palestina ocupada.
Acrescenta a ONU: "O Brasil rural amarga índices africanos. O
acesso a saneamento básico adequado é inferior ao registrado entre
camponeses de nações imersas em
conflitos internos, como Sudão e
Afeganistão". Sim, Afeganistão.
É esse o Brasil que vai às urnas
dentro de seis meses. O Brasil real,
que não aparece nem no discurso
do governismo nem apareceu no de
José Serra, principal candidato
oposicionista.
Serra fala, aliás, em avanços.
Houve, como é óbvio. Mas não cabe
um conformismo medíocre, mesmo em áreas como a redução da pobreza (que também houve). Vejamos a propósito o que diz o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães,
ministro da Secretaria de Assuntos
Estratégicos, em entrevista para a
revista do Ipea:
"A classe A e B são pessoas que
ganham mais de R$ 4.000, e R$
4.000 não é propriamente uma renda extraordinária. Agora imagine
que os outros todos ganham menos
de R$ 4.000. Então, a maioria está
lá na classe C, D e E. São mais de
50% a 60% da população. É pouco
importante saber se é 60% ou 70%,
porque é um número tão grande..."
Pulemos para educação e desigualdade. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios trabalhados pela Unicamp mostram
que, no nível médio de ensino, estão
na escola 75% dos jovens que pertencem ao grupo dos 20% mais ricos, contra apenas 25% dos garotos
do andar de baixo.
É pedir demais que a campanha
eleitoral se concentre em como reduzir (de preferência eliminar) a
aberração que é o Brasil ser a oitava
economia do planeta e o 75º país
em desenvolvimento humano?
crossi@uol.com.br
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