São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Testemunho

BRUXELAS - Meu chefe Vinicius Torres Freire já disse quase tudo o que havia a dizer sobre o texto do jornal "The New York Times" a respeito do suposto alcoolismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas eu não me sentiria cômodo se omitisse um testemunho pessoal. Acompanho Lula, por força da profissão, faz quase 30 anos, das greves no ABC no fim dos anos 70 até a Presidência da República.
Nunca vi nada, rigorosamente nada, que revelasse adição ao álcool, mesmo em viagens, nas quais o convívio é forçosamente de muitas e muitas horas seguidas. Posso ser distraído, mas, como não bebo rigorosamente nada, meu olfato para bebida é aguçado.
Acompanhei Lula, relativamente de perto, em entrevistas (exclusivas ou coletivas), seminários, mesas redondas, comícios (sindicais e políticos), encontros com autoridades estrangeiras (tanto antes como depois de ele ser presidente da República), encontros reservados com seus próprios companheiros de partido ou com outros dirigentes políticos.
Em geral, momentos agudos, que, dizem os especialistas, convidam a beber (quem gosta, claro). Em nenhum deles Lula demonstrou o mais leve sinal de que havia bebido ou, quando o fez, dentro do socialmente aceito, de que o álcool afetara sua atividade.
Tampouco notei uma preocupação nacional com o suposto vício de Lula, como afirma o texto do "New York Times". É verdade que estou fora do país há três meses, mas não creio que, nesse espaço de tempo, o Brasil tenha passado a discutir o assunto.
Por fim, como diz a nota do porta-voz da Presidência, André Singer, o texto citado resvala, sim, para o preconceito, não contra o presidente, mas contra o mundo sindical, ao insinuar que nele se bebe mais.
Bobagem. Bebe-se tanto quanto no mundo jornalístico ou no mundo empresarial ou em qualquer outro ambiente.
O problema de Lula, do meu ponto de vista, não é a bebida, mas o jeito de governar.


Texto Anterior: Editoriais: EFEITOS DA TORTURA

Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: A eleição do mínimo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.