São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2011 |
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ANTONIO DELFIM NETTO Lição de casa Há visíveis discordâncias entre os economistas sobre como superar os problemas deixados pela crise de 2007-09. Ela desempregou, no plano da economia real, aproximadamente 30 milhões de cidadãos, desarticulou ainda mais a precária condição fiscal de um grande número de países, acentuou os imensos desequilíbrios (positivos e negativos) no balanço em conta-corrente de alguns deles e introduziu sérias dúvidas sobre a continuidade do uso do dólar como unidade de conta internacional. Essa confusão não é o fim, mas o começo de um novo conhecimento econômico. É evidente que o conhecimento só avança quando é contestado pela realidade: a ciência progride sobre suas falhas. O estado de dúvida ampla, geral e irrestrita deve levar à modéstia nas recomendações "normativas" frequentemente extraídas de modelos elegantes, mas de discutível vinculação com a realidade. Abre-se um vasto campo de conhecimento a ser retrabalhado e explorado. Não devemos desanimar ou nos enganar com essa visão quase niilista da economia. O conhecimento acumulado nos últimos 200 anos é rico de ensinamentos para a boa governança dos Estados. O fracasso do "mainstream" da macroeconomia não é o fracasso da economia, mas apenas o de uma de suas "escolas". E, mais importante, não é licença para amadorísticas aventuras experimentais. Paradoxalmente, nunca foi tão importante como agora conservar o que sobrou da boa e velha lição que fez o sucesso do Estado indutor constitucionalmente controlado: 1º) Realizar uma política fiscal com olhos no longo prazo, com moderados deficits nominais, boa qualidade no financiamento da dívida e controle da relação dívida pública/PIB; 2º) Economizar nos gastos do governo para abrir espaço ao seu investimento; 3º) Suprir com eficiência os bens públicos que o mercado não pode produzir; 4º) Realizar uma política monetária que garanta a estabilidade do valor da moeda e do sistema financeiro e que, com o conforto da política fiscal, leve a taxa de juros real interna a igualar-se à externa; 5º) Criar os incentivos corretos para estimular os agentes econômicos; 6º) Dar liberdade bem regulada aos mercados; 7º) Não tentar violar as identidades da contabilidade nacional. Mesmo com uma boa lição de casa, a política econômica exige arte para calibrar os instrumentos disponíveis (por exemplo, as políticas fiscal e monetária), para atingir os objetivos: uma inflação parecida com a do resto do mundo e o pleno uso dos capitais humano e físico. Por uma boa razão: as políticas fiscal e monetária não são independentes. A "arte" é juntar pragmatismo, pertinácia e paciência. ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna. contatodelfimnetto@terra.com.br Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Conspirações Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Armando Monteiro Neto: Em defesa da pequena empresa Índice | Comunicar Erros |
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