São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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UNIVERSIDADE E ELITE

Em todo o Ocidente, onde se cristalizou ao longo de séculos a tradição universitária, houve sempre uma íntima relação entre o ensino nas cátedras e os postos de prestígio e importância na sociedade, seja no setor público, seja no privado.
De um modo geral, pode-se dizer que, pelos bancos das universidades mais tradicionais, passa um significativo contingente de pessoas que, mais tarde, terão poder de decisão nas maiores empresas, nas mais altas instâncias do Estado. Vê-se, por aí, quão estratégico é para o destino de uma sociedade nacional o problema do acesso às melhores e mais tradicionais universidades.
Nesse sentido, é algo mais que pitoresca a descrição da nova elite norte-americana, traçada no livro "Bobos in Paradise", do jornalista David Brooks, assunto discutido hoje no caderno Mais!. Sob o acrônimo "bobo", de "bohemians" (boêmios) e "bourgeois" (burgueses), abriga-se mais que um estilo de vida um tanto eclético. Os "bobos", tão bem personificados pelos altos executivos das grandes empresas ligadas à chamada nova economia, têm, em geral, uma origem universitária comum.
Devem essa formação a uma pequena revolução no sistema universitário norte-americano, que acabou por quebrar certo monopólio que garantia aos filhos da elite aristocrática uma vaga nas mais tradicionais universidades. A democratização do recrutamento no ensino superior é um bem em si mesmo, um avanço em termos de cidadania. Além disso, não se pode negar sua eficácia, haja vista a revolução tecnológica de que os "bobos" foram protagonistas e que foi fundamental para sustentar o mais longo ciclo de crescimento da economia dos EUA na história.
No Brasil, as melhores e mais tradicionais universidades continuam pouco acessíveis aos jovens de renda mais baixa. É óbvio que houve melhoras ao longo dos anos. Mas seu ritmo foi muito lento e seus resultados, insuficientes. A má qualidade do ensino público básico e médio, entre outros fatores, transforma-se num imenso abismo competitivo entre os que podem e os que não podem pagar uma boa escola privada. É inestimável o número de talentos que se perdem com esse sistema. Mas o mais grave é o déficit democrático que essa distorção alimenta.
É preciso propugnar pela igualdade de competição por vagas nas boas faculdades, o que só se fará elevando o nível da escola pública primária e secundária ao das melhores instituições privadas. Está aí, sem dúvida, uma reforma por que o Brasil necessita passar urgentemente.


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