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UNIVERSIDADE E ELITE
Em todo o Ocidente, onde se
cristalizou ao longo de séculos
a tradição universitária, houve sempre uma íntima relação entre o ensino nas cátedras e os postos de prestígio e importância na sociedade, seja
no setor público, seja no privado.
De um modo geral, pode-se dizer
que, pelos bancos das universidades
mais tradicionais, passa um significativo contingente de pessoas que,
mais tarde, terão poder de decisão
nas maiores empresas, nas mais altas instâncias do Estado. Vê-se, por
aí, quão estratégico é para o destino
de uma sociedade nacional o problema do acesso às melhores e mais tradicionais universidades.
Nesse sentido, é algo mais que pitoresca a descrição da nova elite norte-americana, traçada no livro "Bobos in Paradise", do jornalista David
Brooks, assunto discutido hoje no
caderno Mais!. Sob o acrônimo "bobo", de "bohemians" (boêmios) e
"bourgeois" (burgueses), abriga-se
mais que um estilo de vida um tanto
eclético. Os "bobos", tão bem personificados pelos altos executivos das
grandes empresas ligadas à chamada nova economia, têm, em geral,
uma origem universitária comum.
Devem essa formação a uma pequena revolução no sistema universitário norte-americano, que acabou
por quebrar certo monopólio que garantia aos filhos da elite aristocrática
uma vaga nas mais tradicionais universidades. A democratização do recrutamento no ensino superior é um
bem em si mesmo, um avanço em
termos de cidadania. Além disso,
não se pode negar sua eficácia, haja
vista a revolução tecnológica de que
os "bobos" foram protagonistas e
que foi fundamental para sustentar o
mais longo ciclo de crescimento da
economia dos EUA na história.
No Brasil, as melhores e mais tradicionais universidades continuam
pouco acessíveis aos jovens de renda
mais baixa. É óbvio que houve melhoras ao longo dos anos. Mas seu
ritmo foi muito lento e seus resultados, insuficientes. A má qualidade
do ensino público básico e médio,
entre outros fatores, transforma-se
num imenso abismo competitivo entre os que podem e os que não podem pagar uma boa escola privada. É
inestimável o número de talentos
que se perdem com esse sistema.
Mas o mais grave é o déficit democrático que essa distorção alimenta.
É preciso propugnar pela igualdade de competição por vagas nas boas
faculdades, o que só se fará elevando
o nível da escola pública primária e
secundária ao das melhores instituições privadas. Está aí, sem dúvida,
uma reforma por que o Brasil necessita passar urgentemente.
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