São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O agravamento da ameaça terrorista

CARLOS DE MEIRA MATTOS

Estamos assistindo, preocupados, ao agravamento das ameaças do terrorista internacional. Vem sendo cumprida a estratégia internacional da Al Qaeda, pronunciada por Bin Laden no final de 2001, portanto meses após o atentado às torres de Nova York e ao Pentágono e antes da intervenção norte-americana no Afeganistão.
Nessa ocasião, Bin Laden proclamou: "Juro por Alá (Deus) que os Estados Unidos não viverão em paz até que a paz reine na Palestina e, antes de tudo, até que o Exército dos infiéis deixe as terras de Maomé (Arábia Saudita) e que a paz reine sobre elas". Depois da invasão do Iraque, o líder da Al Qaeda estendeu essa ameaça a todos os países aliados dos Estados Unidos, na Guerra do Iraque.
Cada vez mais graves, essas ameaças vêm se concretizando. Os Estados Unidos têm sido obrigados a viver em constante "estado de alerta", restritivo à normalidade da vida de seu povo, buscando desvendar e conter uma nova prometida agressão. Todos os seus aliados na Guerra do Iraque já sofreram ataques, destacando-se os de maior vulto à Turquia, Espanha e Arábia Saudita (governada por uma dinastia aliada ao governo de Washington e que abriga em seu território os lugares sagrados do islamismo, as cidades de Meca e Medina).
Dois relatórios recentes, de prestigiosos órgãos de estudo internacional e de pesquisas -o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, e a Rand Corporation, da Califórnia, EUA- vieram aumentar o grau de apreensão quanto ao recrudescimento da violência terrorista.


Dois relatórios recentes vieram aumentar o grau de apreensão quanto ao recrudescimento da violência terrorista
O relatório da IISS considera que a Guerra do Iraque foi o principal fator de crescimento da ameaça do terrorismo internacional e fortaleceu a Al Qaeda, facilitando o recrutamento de novos adeptos e a expansão do número de "focos" em vários países. O documento calcula que a Al Qaeda disponha hoje de focos em 60 países e conte com uma legião de 18 mil terroristas radicais. Prevê que seus próximos alvos, por ordem de prioridade, serão a Inglaterra e a Arábia Saudita, uma vez que as severas medidas de segurança adotadas pelos Estados Unidos os estariam obrigando a adiar seus planos.
De acordo com as previsões da Rand Corporation, contidas nas pesquisas divulgadas pelo seu presidente, Bruce Hoffman, a Al Qaeda atingiu um perigoso nível de organização, funcionando nos moldes de uma empresa multinacional capaz de dirigir ações e movimentar fundos por um sistema de redes eletrônicas. Hoffman admite que o organizador e diretor dessa rede seja o próprio Bin Laden, formado em economia e administração pela conceituada Universidade Rei Abdul Aziz, da Arábia Saudita (1981).
Por outro lado, Bin Laden foi (ou é) proprietário, no Sudão, das empresas mais lucrativas nas áreas de construção civil, manufatura, câmbio, comércio exterior e agricultura. Sabe-se de sua antiga participação em várias empresas do Oriente Médio e do Norte da África. Supõe-se hoje que seus negócios continuem lucrativos, manejados sub-repticiamente por agentes desconhecidos. Sabe-se também que ele recebe doações de simpatizantes, principalmente da Arábia Saudita. Segundo Hoffman, dinheiro não falta à Al Qaeda.
Esse quadro fornecido pelos respeitados órgãos de estudos internacionais da Inglaterra e dos Estados Unidos e a sucessão cada vez mais grave dos atentados terroristas obriga-nos a prever uma próxima situação mundial tumultuada, tanto política como economicamente.
No tocante ao Brasil, o perigo mais próximo, imaginamos, será conseqüência de uma indesejável vitória dos fundamentalistas na Arábia Saudita, maior produtora de petróleo, aliada dos Estados Unidos. A queda da dinastia Saud poderá provocar uma revolução no mercado mundial de petróleo, com inevitáveis reflexos na nossa economia.


Carlos de Meira Mattos, 90, general reformado do Exército e doutor em ciência política, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra.


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