São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI Sem rosto HAMBURGO - Estranho mundo
esse em que um homem tem tantos
rostos que acaba não tendo nenhum. Nem se tem certeza absoluta
de que de fato exista. Não obstante,
virou inimigo público número um
(ou dois) do Ocidente.
Refiro-me a Abu Musab al Zarqawi, suposto líder da Al Qaeda no
Iraque, morto na quinta-feira. Digo
suposto porque o fato de o governo
Bush ter mentido a respeito da existência de armas de destruição em
massa no Iraque torna duvidosa
qualquer outra afirmação até que
ela possa ser comprovada por fontes independentes.
Como a Al Qaeda é uma franquia
cujos operadores não têm sede, QG,
CEP, e-mail etc., não parece possível verificar se tudo o que seus supostos líderes dizem ou tudo o que
dizem a respeito deles é verdadeiro
ou falso.
De alguma maneira, essa anomalia torna tão horrenda a guerra contra o terrorismo como as próprias
horrendas guerras do século passado. Uma coisa é derrotar Hitler, de
endereço certo e sabido, controle
de um território também certo e sabido. Outra é enfrentar as mil faces
do terrorismo. Diz o Centro Nacional de Contra-Terrorismo (EUA)
que Zarqawi tinha agentes operativos em 40 países e vínculos com 24
grupos extremistas.
Derrotar Hitler era derrotar o nazismo. Ponto. Matar Zarqawi é o
quê? "É uma aposta segura [dizer]
que as hostilidades [no Iraque]
atingiram um nível de intensidade
que não mais requer as mortíferas
provocações de Zarqawi", escrevem
para "The International Herald
Tribune" os especialistas Daniel
Benjamin e Steve Simon.
Poderiam acrescentar que os
atentados aos trens de Madri
(2004) e a meios de transporte de
Londres (2005) também prescindem desse homem sem rosto. Não é
um mundo fácil para se viver ou até
mesmo para entender.
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