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RUY CASTRO
Até o próximo escândalo
RIO DE JANEIRO - Outro dia,
procurando uma besteira no Google, vi-me numa página da Wikipédia intitulada "Lista de escândalos
de corrupção no Brasil". Cliquei e
fui ler. Era isso mesmo: uma lista
dos escândalos em cada governo, de
Geisel para cá.
Que viagem! Recordei nomes de
que há muito tinha me esquecido:
casos Lutfalla, Atalla e Coroa-Brastel, o escândalo das polonetas, das
mordomias, das pedras preciosas.
Só não me peça para explicar o que
eram -centenas de escândalos depois, só um gênio se lembraria de
todos esses acintes que, na época,
nos encheram de santa indignação.
Dei-me à pachorra de contar os
casos. No governo Geisel (1974-1979), a Wikipédia aponta 10 escândalos; no de Figueiredo (1979-1985), 11. Só isso? Sim, mas, lembre-se, era ditadura, e nada se apurava.
Além disso, sob Figueiredo, ela esqueceu a bomba no Riocentro.
No governo Sarney (1985-1990),
o recorde negativo: 6 escândalos.
Engraçado: na época, tinha-se a
sensação de um por dia. Mas a Wikipédia, mais uma vez, pode ter-se
distraído, porque omitiu a farsa na
concorrência da ferrovia Norte-Sul,
desmascarada por Janio de Freitas
na Folha.
No governo Collor (1990-1992),
as coisas começam a esquentar: 19
escândalos. Parece pouco, mas apenas um caso, "o esquema PC", comporta uns 20 ou 30 embutidos. E o
governo Itamar (1992-1994), para
quem sente saudades dele, comparece com 31 escândalos.
Adivinhe quem vai para o trono:
os governos FHC (1995-2002) e
Lula (desde 2003). O primeiro emplacou 44 escândalos; o segundo,
101, e a Wikipédia ainda não incluiu
a Operação Xeque-Mate.
Pode-se dizer que nunca se apurou tanto quanto hoje. Certo. Mas
ninguém é punido, e vida que segue. Zera-se a pedra e até o próximo escândalo.
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