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TENDÊNCIAS/DEBATES
A Amazônia brasileira para os brasileiros
JOHAN ELIASCH
Divulgou-se que eu teria dito que a floresta amazônica poderia ser "comprada" pelo valor total de US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso!
REPORTAGENS positivas e negativas, algumas delas contendo
vários erros factuais, têm sido
publicadas recentemente a respeito
do meu envolvimento na proteção da
floresta amazônica e, portanto, alguns esclarecimentos à opinião pública brasileira merecem ser prestados
de forma clara e objetiva.
Sou um admirador do Brasil, da cultura multifacetada, das belezas naturais e da amabilidade do povo brasileiro. Tenho imenso respeito pela liderança exercida por este país no
combate ao desmatamento e na proteção ao meio ambiente. Nenhum
país tem feito mais para tentar entender os fatores que geram o desmatamento e os desafios na promoção do
desenvolvimento sustentável.
A floresta amazônica brasileira
pertence ao Brasil e acredito firmemente que assim deva continuar. Alguns observadores estrangeiros têm
sustentado que o governo brasileiro
deve ser guiado sobre como proteger
a floresta ou, ainda, que intervenções
internacionais seriam necessárias.
Tal opinião, normalmente defendida
por pessoas que nunca estiveram no
Brasil ou na floresta amazônica, mostra-se completamente equivocada.
Tem sido divulgado, sem o menor
fundamento, que eu teria dito que a
floresta amazônica poderia ser "comprada" pelo valor total de US$ 50 bilhões. Eu jamais disse isso!
Fiz um discurso à indústria de seguros em julho de 2006, quando procurei demonstrar a direta relação
existente entre o desmatamento da
floresta e alguns desastres naturais.
O que eu disse, para que fique publicamente esclarecido, é que o valor
despendido por empresas seguradoras em decorrência dos efeitos devastadores do furacão Katrina em 2005
(cerca de US$ 75 bilhões) foi superior
ao hipotético valor capital da floresta
amazônica.
Afirmei que a indústria seguradora
tem um claro interesse em patrocinar
financeiramente a proteção das florestas tropicais. Tal proteção teria reflexos nas mudanças climáticas, evitando, conseqüentemente, os acidentes naturais daí decorrentes.
Se o carbono armazenado nas florestas tropicais é um recurso global
contra mudanças climáticas, o Brasil,
assim como outros países onde tais
florestas estão localizadas, deve ser
recompensado pelo uso sustentável
de tais recursos.
Por que o Brasil deveria assumir tal
responsabilidade isoladamente? A
única forma de reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo, assegurar
os objetivos de crescimento e desenvolvimento dos países detentores de
florestas tropicais é ter todos trabalhando em torno do mesmo objetivo.
Acredito que devemos reunir a habilidade e a competência do Brasil e
de outros países detentores de florestas tropicais com uma substancial
disponibilidade de recursos por parte
dos países economicamente mais desenvolvidos. Os países ricos, afinal,
são aqueles que mais se beneficiaram
pelo desenvolvimento e progresso industrial e mais causaram, portanto,
efeitos negativos ao meio ambiente.
Se a comunidade internacional agir
unida em questões de combate à pobreza e na transferência de parte dos
frutos econômicos do uso da floresta
para as populações locais (uso sustentável), em vez de empresas exploradoras (desenvolvimento não sustentável), poderemos atacar o problema
do desmatamento de forma efetiva.
A proteção da floresta é um modelo
comunitário e, como cidadão da comunidade internacional, procuro assumir a responsabilidade que me cabe nesse contexto.
O resto do mundo deve estar preparado para compensar as nações detentoras de florestas tropicais pela
proteção desse patrimônio.
Essa pode ser uma oportunidade
sem precedentes no combate à pobreza e um instrumento para o desenvolvimento econômico do Brasil
(mais especificamente da região amazônica), do Congo e de alguns países
asiáticos.
Não sou um conservacionista passivo. O Brasil tem uma imensa responsabilidade nesse contexto e tem
feito esforços heróicos em áreas de
proteção do meio ambiente.
Eu e muitos outros, brasileiros ou
estrangeiros, dividimos o mesmo
ideal. Por que então não colocar de lado polêmicas políticas e atuar em
conjunto? O futuro do planeta está
em jogo e somos todos responsáveis
por deixá-lo em melhores condições
para essa e futuras gerações.
JOHAN ELIASCH, 46, bacharel em economia, mestre em
engenharia pelo Instituto Real de Tecnologia da Suécia, é
assessor especial do primeiro-ministro britânico para assuntos relativos ao desmatamento e mudanças climáticas, presidente do Conselho Administrativo e CEO da
Head N.V. e co-presidente da Cool Earth, além de patrono
da Universidade de Estocolmo (Suécia).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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