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Identidades em luta
AGRAVARAM-SE os conflitos
entre lideranças indígenas e forças policiais na
Amazônia peruana. Variam as
estimativas quanto ao número
de índios mortos no dia 6 de junho. Foram nove, segundo o governo, ou pelo menos 30, na contabilidade das lideranças locais.
No mesmo dia, 25 policiais foram mortos pelos índios -fato
que o governo Alan García divulgou em anúncios, carregados de
pesado arsenal retórico, nas
emissoras de TV.
O conflito se dá em torno de
vários decretos presidenciais,
datados de 2008, que visavam facilitar a exploração econômica
de 60% da Amazônia peruana.
As lideranças indígenas, que ontem obtiveram do Congresso a
suspensão da vigência do projeto, exigem que leis desse teor sejam submetidas à prévia autorização das comunidades tradicionais que habitam a floresta.
Teoricamente, não se trata de
conflito insolúvel. A promoção
de atividades que envolvam a população local e a criação de um
sistema de compensações -a
exemplo do que ocorre com os
royalties que beneficiam as regiões produtoras de petróleo-
seriam mecanismos capazes de
conciliar as necessidades de desenvolvimento do país e a atenção aos interesses indígenas.
O que mais preocupa no contexto latino-americano, todavia,
é a crescente confusão entre protesto político e pura afirmação
da identidade étnica.
É como se, em sociedades desiguais e divididas, o próprio sentido de um termo como "nação" ficasse esgarçado; populações indígenas constituiriam entidades
políticas à parte, e o que se esboça é quase que uma versão sul-americana do famoso -e equivocado- "conflito de civilizações",
tematizado pelo teórico conservador norte-americano Samuel
Huntington (1927-2008).
Não há "conflito de civilizações", mas conflitos políticos -e
derramamentos de sangue. Discordâncias negociáveis -e confrontos homicidas. É diante dessa encruzilhada que lideranças
indígenas e o governo conservador do Peru se situam no momento. E aquelas comunidades
tradicionais, historicamente alijadas do desenvolvimento do
país, precisam ser integradas ao
Peru moderno.
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