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JOSÉ SARNEY
Açúcar no pré-sal
A alma brasileira nos últimos tempos tomou-se de justificado peito cheio após a descoberta do pré-sal. De repente
acordamos com a decisão do
Criador de ficarmos bilionários, o Brasil de riso aberto e
cara diferente daquele "ame-o
ou deixe-o". Barriga cheia de
petróleo e olhos de Opep.
O bom é ser um sonho-verdade. Vivi os vários tempos, a
começar dos anos 50, em que
o Brasil lidou com o petróleo
como amigo e inimigo, ter e
não ter. O mundo em 140
anos, consumiu mais de um
trilhão de barris e as reservas
mundiais descobertas indicam a existência de outro trilhão. O Brasil, antes do pré-sal, tinha petróleo apenas para 18 anos, e com ele pode chegar a cem e, se Deus guardou
com cuidado, para muitos
anos mais.
Como toda riqueza, desperta ambição e briga. Luís Viana
falava: "Ali está uma família
unida"; e ele mesmo perguntava: "Já teve herança a dividir?". É o que estamos vivendo, numa luta de gladiadores,
Estados, municípios, políticos
com e sem voto, palpiteiros
em busca de ribalta, mamulengos fingindo ódios e raivas
pelo modo de repartir o bolo.
Cada um quer seu pedaço e
invoca argumentos, desde a
formação redonda dos mares
da Terra à necessidade de dar
um litro de gasolina a cada
brasileiro. A novidade é o modelo correto de adotar a partilha, e não a concessão, na exploração das novas reservas.
Num, elas podem ser privadas e estrangeiras, noutro, são
da Petrobras, como ícone do
povo brasileiro. A verdade é
que 80% do petróleo do mundo vem de poços em sistema
de partilha, pois ninguém vai
dividir com os de fora o que
pode fazer com os seus.
Se tudo correr bem, em breve vai aparecer a cor dessa grana. Julgo que quem já tem direito adquirido, recebendo royalties, como o Rio e o Espírito
Santo, não pode perder seus
ganhos. Seria um absurdo e
nada constitucional.
Mas, daqui para a frente, as
riquezas que pertencem à nação não podem deixar de ser
divididas entre todos e destinadas para transformar o Brasil, a começar por educação e
tecnologia, socorrer Estados e
municípios contra a pobreza.
O Brasil tem uma oportunidade extraordinária, e não deve perdê-la em conversas de
botequim. Celso Furtado escreveu um livro dizendo que a
Venezuela, quando descobriu
petróleo, podia se transformar
num dos maiores países da
América. Não souberam aproveitar a chance e deu no que
está dando.
A visão política de encarar o
problema não está à altura do
desafio. Este assunto deve caminhar para um novo patamar de discussão e solução.
Um terreno de união nacional,
sem oposição ou governo. É o
presente e o futuro. Hora de
estadistas, tempo de soluções
grandiosas. Colocar açúcar no
pré-sal.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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