São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008 |
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JOSÉ SARNEY A Quarta ou a Quinta
A COMEÇAR pelos fenícios, as
potências mundiais sempre
foram potências navais.
Com o fim da Idade Média, Portugal, Espanha, Holanda, França e
Inglaterra dominaram os mares.
Portugal foi ultrapassado no final
do século 16 pela Holanda, que chegou com seus navios leves e velozes. Os ingleses, com a novidade
das fragatas com duas fileiras de
canhões, levaram de roldão portugueses, espanhóis e holandeses, e
nasceu o formidável Império Britânico.
Hoje, 90% do comércio mundial
circula pelos mares. Os Estados
Unidos distribuíram suas frotas
em todos os pontos estratégicos
dos oceanos. A Segunda e a Terceira Frotas são responsáveis pela defesa dos interesses americanos nos
oceanos Atlântico e Pacífico, respectivamente. A Quinta Frota, que
cobre o golfo Pérsico, o mar Vermelho e o mar Arábico, acompanha
as tensões do Oriente Médio e já
chegou a contar com nada menos
do que cinco porta-aviões americanos, em 2003. A Sexta Frota é baseada no Mediterrâneo, e a Sétima,
no Japão. A Primeira Frota foi desativada em 1973. E agora os EUA
querem reativar a Quarta Frota,
que ficará responsável pelo Atlântico Sul.
A China, que sempre foi uma potência terrestre, tornou-se hoje
uma potência naval. Uma de suas
tarefas é proteger suas rotas de comércio, especialmente as do petróleo e de seu fluxo gigantesco de exportação. Patrulha permanentemente os 800 quilômetros do estreito de Malaca, hoje infestado de
piratas modernos.
O aspecto econômico-comercial
certamente também pesou na decisão americana de reativar a
Quarta Frota no Atlântico Sul, com
a perspectiva de que a região se torne um dos grandes centros produtores de petróleo, devido às recentes descobertas de jazidas.
Em 1986, o meu governo propôs
à ONU a criação de uma Zona de
Paz e Cooperação do Atlântico Sul.
Esta proposta, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas
em 27 de outubro daquele ano, por
meio da Resolução n.º 41/11, torna
o Atlântico Sul uma zona de paz, livre de armas nucleares. Esta resolução do Brasil teve 124 votos a favor e um único voto contra, o dos
Estados Unidos. Nossa preocupação continua válida. Sou um pacifista e hoje, como ontem, sei que
ninguém impedirá navios americanos de navegar em todos os mares
internacionais, mas não posso concordar que transitem por aqui com
armas nucleares. E todos eles as
têm. Essa deve, objetivamente, ser
a posição do Brasil: ver cumprida a
resolução aprovada pela ONU em
1986. Necessitamos desta clara garantia. No mais, eles não precisam
de Quarta. Já têm a Quinta, a Sexta
e até o Sábado de Aleluia. JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna jose-sarney@uol.com.br Texto Anterior: Rio de Janeiro - Nelson Motta: A bananização da música Próximo Texto: Frases Índice |
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