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A vez do Brasil
Nova fase do país justifica a organização da Copa e da Olimpíada, mas os riscos de uso inadequado de recursos públicos são preocupantes
Encerra-se hoje a Copa do Mundo da África do Sul. Caberá ao Brasil receber o torneio em 2014, 64
anos depois de tê-lo patrocinado
pela primeira vez. Parece longínquo o país que inaugurou o Maracanã em 1950, com suas imagens
fixadas em branco e preto, e os
pouco mais de 50 milhões de habitantes -número que já terá superado 200 milhões no ano do Mundial. Foi naquela década contudo
que os brasileiros começaram a
apresentar-se como aspirantes a
um lugar de relevo no mundo.
De 1950 a 1980, a economia nacional cresceu a uma taxa média
anual superior a 7% -ritmo que
faz lembrar a presente expansão
chinesa. Uma capital futurista foi
erguida no nada, investiu-se como nunca em infraestrutura, as cidades cresceram, o consumo modernizou-se e as profecias acerca
do "país do futuro" pareceram
mais próximas de se realizar.
Vieram a seguir tempos de descontrole inflacionário e crises em
série, mas o apagado desempenho econômico não impediu que
o país saísse da ditadura para consolidar sua jovem democracia.
Desde o Plano Real, criaram-se
as condições para a retomada do
crescimento, que tem se verificado de maneira convincente.
Nessa nova fase, faz sentido o
Brasil, com renovada projeção em
fóruns globais, aparecer como patrocinador de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada.
O que não faz sentido é nos arriscarmos a perder a chance de
maximizar os benefícios públicos
associados a esses eventos, deixando em segundo plano a racionalidade, a lisura e a transparência na gestão dos investimentos.
Quanto a isso, infelizmente, dissemina-se um clima de desconfiança, que já se traduz nas tradicionais anedotas com que se costumam brindar políticos e dirigentes esportivos -não sem motivo-
em nosso país.
Até o momento tem-se uma estimativa de gastos públicos federais, com vistas à Copa, da ordem
de R$ 22,3 bilhões, o equivalente a
quase dois anos do programa Bolsa Família. O montante é o dobro
do investido pela África do Sul -e
não inclui a construção e reforma
de estádios, que, em sua maior
parte, se fará com dinheiro de Estados e municípios, além de recursos oferecidos a juros camaradas
pelo BNDES.
Tanto na Copa quanto na Olimpíada, o poder público será parceiro de entidades esportivas, como o Comitê Olímpico e a Confederação Brasileira de Futebol, não
raro envolvidas em casos suspeitos, cujos dirigentes, que se perpetuam nos cargos, estão longe de
poder apresentar resultados sólidos no campo da gestão esportiva
no país.
Do ponto de vista econômico, o
futebol brasileiro encontra-se em
situação crítica, com clubes pendurados em dívidas fiscais e privadas; o esporte olímpico, por sua
vez, ainda vive de resultados esporádicos e de uma ou outra modalidade de sucesso.
Para aumentar as preocupações, governo e Congresso tratam
de criar medidas para facilitar o
desembaraço das licitações e amenizar a fiscalização das obras.
Como o calendário não se moverá, os atrasos, já em cena, apenas conspiram para que recursos
públicos sejam consumidos de
maneira inadequada, em meio a
improvisos e atropelos.
Ainda há tempo para a sociedade exercer pressões e impedir que
essas grandes festas esportivas se
vejam manchadas pela incúria e
pela irresponsabilidade de políticos e aproveitadores.
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