São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Palavras, palavras

RIO DE JANEIRO - Bárbaro, chocante, terrível. Alguns adjetivos fartamente usados pela imprensa na cobertura do caso Bruno são ambivalentes. Ao menos como gírias, essas palavras também podem ter acepções positivas.
Sabemos que o grotesco é ingrediente que não falta nas receitas da comunicação de massa. O tom frenético (outro adjetivo ambivalente) que marcou nos últimos dias o acompanhamento jornalístico do caso indica como é estreita a separação entre o ímpeto necessário e a compulsão alucinada.
A menção aqui não é ao sensacionalismo de certos programas e jornais, pois ele é figura antiga e, diga-se, já até produziu grandes textos e imagens.
Mas por que uma boa repórter de um canal de TV paga interrompe uma delegada na operação de embarque de Bruno para Minas e faz perguntas sem nexo?
Por que tantas coletivas e exclusivas -sem nenhum contraponto crítico- de um delegado mineiro nitidamente destrambelhado, fascinado por estar gastando sua prosódia constrangedora diante de Ana Maria Braga, Datena e outras potências, e que pôs querosene na alucinação coletiva ao chamar seu principal investigado de "monstro" (mais um ambivalente)?
Por que tanto destaque para gritos de "assassino", se está claro que são dados por gente que só vai às portas de delegacias por estar magnetizada pelos amontoados cada vez maiores de câmeras, e assim realiza a Inquisição da era digital?
A ampliação de modelos de comunicação e a necessidade de tudo se dar agora, ao vivo, com urgência, faz com que já achemos normais esses helicópteros acompanhando comboios de carros de polícia e nós, jornalistas, falando, falando, falando... Ainda há algum controle ou ele está para lá de remoto?
As coberturas são intensas, maciças, arrasadoras. Somos bárbaros, chocantes, terríveis.


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