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LUIZ FERNANDO VIANNA
Palavras, palavras
RIO DE JANEIRO - Bárbaro, chocante, terrível. Alguns adjetivos fartamente usados pela imprensa na
cobertura do caso Bruno são ambivalentes. Ao menos como gírias, essas palavras também podem ter
acepções positivas.
Sabemos que o grotesco é ingrediente que não falta nas receitas da
comunicação de massa. O tom frenético (outro adjetivo ambivalente)
que marcou nos últimos dias o
acompanhamento jornalístico do
caso indica como é estreita a separação entre o ímpeto necessário e a
compulsão alucinada.
A menção aqui não é ao sensacionalismo de certos programas e
jornais, pois ele é figura antiga e, diga-se, já até produziu grandes textos e imagens.
Mas por que uma boa repórter de
um canal de TV paga interrompe
uma delegada na operação de embarque de Bruno para Minas e faz
perguntas sem nexo?
Por que tantas coletivas e exclusivas -sem nenhum contraponto
crítico- de um delegado mineiro
nitidamente destrambelhado, fascinado por estar gastando sua prosódia constrangedora diante de
Ana Maria Braga, Datena e outras
potências, e que pôs querosene na
alucinação coletiva ao chamar seu
principal investigado de "monstro"
(mais um ambivalente)?
Por que tanto destaque para gritos de "assassino", se está claro que
são dados por gente que só vai às
portas de delegacias por estar magnetizada pelos amontoados cada
vez maiores de câmeras, e assim
realiza a Inquisição da era digital?
A ampliação de modelos de comunicação e a necessidade de tudo
se dar agora, ao vivo, com urgência,
faz com que já achemos normais esses helicópteros acompanhando
comboios de carros de polícia e
nós, jornalistas, falando, falando,
falando... Ainda há algum controle
ou ele está para lá de remoto?
As coberturas são intensas, maciças, arrasadoras. Somos bárbaros, chocantes, terríveis.
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