São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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A culpa é do mordomo

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O Planalto deu ou não aval à votação da lei que empurrou a Ford para a Bahia? A pergunta tem sentido. Afinal, muitos governistas votaram a lei achando que agradavam ao Planalto e ficaram espantados com a ameaça de veto de Fernando Henrique Cardoso, já no dia seguinte.
A resposta tem personagens e ingredientes típicos de livros policiais. Não exatamente os melhores, mas os mais comuns. E é surpreendente.
O vice-líder governista Ronaldo Cezar Coelho (PSDB-RJ) disse que acertou tudo com a Casa Civil da Presidência. O relator, deputado José Carlos Aleluia, pefelista, baiano e carlista (com perdão do pleonasmo), também arrematou a coisa no Planalto e apresentou "nova redação" numa MP que não tinha nada a ver com a história.
O presidente não sabia, o chefe da Casa Civil não sabia, os ministros não sabiam, a assessoria parlamentar da Presidência não sabia. Ou dizem agora que não sabiam.
Pior: todos eles, sem exceção, juram que eram contra e queriam o adiamento da votação para agosto, até que se garantisse a ida da Ford para a Bahia, mas sem tantas concessões fiscais e sem cutucar o Mercosul e a Organização Mundial do Comércio.
Se todos foram pegos de calças curtas, a culpa é de Ronaldo Cezar Coelho, que pode ter mentido, ter sido cooptado por ACM ou, simplesmente, atacado por uma repentina surdez no dia da votação. Ou seja, a culpa é do mordomo. Os donos da casa nunca têm nada com isso.
O episódio gerou duas consequências: uma troca de acusações entre o Planalto e as lideranças governistas no Congresso e a sensação crescente de que o governo está ao deus-dará, cada um faz o que bem entende. Ora é uma crise operacional, ora é uma crise política. E nunca se sabe quando a econômica vai começar.
Mais uma vez, só uma pessoa tem motivos para rir. Quem? Ele, ACM.


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