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A culpa é do mordomo
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O Planalto deu ou não aval
à votação da lei que empurrou a Ford
para a Bahia? A pergunta tem sentido. Afinal, muitos governistas votaram a lei achando que agradavam ao
Planalto e ficaram espantados com a
ameaça de veto de Fernando Henrique Cardoso, já no dia seguinte.
A resposta tem personagens e ingredientes típicos de livros policiais. Não
exatamente os melhores, mas os mais
comuns. E é surpreendente.
O vice-líder governista Ronaldo Cezar Coelho (PSDB-RJ) disse que acertou tudo com a Casa Civil da Presidência. O relator, deputado José Carlos Aleluia, pefelista, baiano e carlista
(com perdão do pleonasmo), também
arrematou a coisa no Planalto e apresentou "nova redação" numa MP que
não tinha nada a ver com a história.
O presidente não sabia, o chefe da
Casa Civil não sabia, os ministros não
sabiam, a assessoria parlamentar da
Presidência não sabia. Ou dizem agora que não sabiam.
Pior: todos eles, sem exceção, juram
que eram contra e queriam o adiamento da votação para agosto, até
que se garantisse a ida da Ford para a
Bahia, mas sem tantas concessões fiscais e sem cutucar o Mercosul e a Organização Mundial do Comércio.
Se todos foram pegos de calças curtas, a culpa é de Ronaldo Cezar Coelho, que pode ter mentido, ter sido
cooptado por ACM ou, simplesmente,
atacado por uma repentina surdez no
dia da votação. Ou seja, a culpa é do
mordomo. Os donos da casa nunca
têm nada com isso.
O episódio gerou duas consequências: uma troca de acusações entre o
Planalto e as lideranças governistas
no Congresso e a sensação crescente
de que o governo está ao deus-dará,
cada um faz o que bem entende. Ora é
uma crise operacional, ora é uma crise política. E nunca se sabe quando a
econômica vai começar.
Mais uma vez, só uma pessoa tem
motivos para rir. Quem? Ele, ACM.
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