São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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PAINEL DO LEITOR

MST na Unicamp

"Em relação ao editorial "Confusão de Tarefas", publicado em 7/7 (pág. 1-2, Opinião), temos a afirmar que esperávamos já ter esclarecido a atuação da Unicamp em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na organização do curso "Realidade Brasileira", com a carta enviada ao "Painel do Leitor", publicada no mesmo dia. No entanto, em vista do conteúdo do editorial, voltamos a esclarecer:
É prática da universidade, instituição eminentemente pluralista e democrática, abrir-se a todos os segmentos organizados da sociedade, num amplo espectro que inclui entidades empresariais, grupos religiosos e organizações sindicais.
A questão agrária, notadamente a da reforma agrária, tem sido permanentemente objeto de nosso estudo acadêmico.
Entendemos que os recursos da instituição pública devem ser utilizados para apoiar o desenvolvimento social, revertendo em benefícios para a sociedade por meio da formação dos cidadãos que, nesse caso específico, dificilmente teriam acesso aos benefícios do ensino que a universidade pode oferecer.
É política desta administração a atuação de forma serena, e não excludente, no trato de questões de cunho social, deixando à própria sociedade a tarefa de julgar os seus atos.
Ao contrário do editorial, não é função da universidade emitir juízo de valor sobre organizações sociais legítimas. Não nos consta tratar-se o MST de organização ilegal, nem que seus líderes tenham sido proscritos.
Além disso, a cessão de espaço e infra-estrutura da universidade para realização do referido curso, a custo mínimo e utilizando local ocioso em período de férias escolares, não configura "desvio de função e recursos de uma instituição pública", pois os Estatutos da Unicamp, em seu Título 1º (Da Universidade e Seus Fins - artigo 2º), prevêem que, para alcançar seus objetivos, a universidade se propõe a "pôr ao alcance da comunidade, sob a forma de cursos e serviços, a técnica, a cultura e os resultados das pesquisas que realizar" e "valer-se dos recursos da coletividade, tanto humanos como materiais, para integração dos diferentes grupos técnicos e sociais na universidade". Além disso, em seu artigo 3º, assegura que, no cumprimento de suas finalidades, a universidade proscreve "o tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa e por preconceito de classe e raça"."
Hermano Tavares, reitor da Unicamp (Campinas, SP)

"Manifesto minha discordância com o editorial da Folha de 7/7 que critica a Unicamp por ter realizado um curso para o MST. É insustentável a argumentação do editorialista de que a universidade não deve cooperar com o MST porque ele é partidário-ideológico. Em primeiro lugar, é um movimento social e não partidário e, ademais, se fosse não seria nenhum erro haver algum tipo de colaboração, desde que fosse no plano educacional ou de treinamento técnico.
Creio que foi confundido o caráter de oposição do MST às políticas do governo, coisa que afinal a Folha também faz. Talvez a diferença seja o MST ser oposição não só ao governo, mas também ao neoliberalismo, que é tão ideológico quanto o velho stalinismo da ex-URSS."
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (Rio de Janeiro, RJ)

"Enfim, uma boa notícia. A Unicamp, ao contrário de todo o sistema de ensino brasileiro, não sofre com a falta de verbas: subsidia formação de líderes de movimentos de caráter pelo menos discutível, em face de nossa Constituição, e presta o serviço de mostrar ao Brasil a verdadeira face do MST, que por tantos anos se escondeu por trás do populismo."

"Gostaria de parabenizar a Folha pela reportagem (Brasil, 6/7) e pelo editorial (em 707) sobre a absurda, inaceitável e ingênua parceria da Unicamp com o MST. Sim, digo ingênua porque não acredito que haja algum interesse escuso ou partidarismo por trás dessa parceria.
É preciso reforma agrária no país? Claro que sim. Uma universidade pública pode apoiar financeiramente e vincular seu nome a um movimento notoriamente antidemocrático, que usa a questão agrária declaradamente somente como pretexto para tomar o poder? Claro que não."
Guilherme Albuquerque Pinto (Campinas, SP)
Nota da Redação - Uma instituição pública não deve auxiliar movimentos partidarizados, mormente quando praticantes contumazes de atos ilegais. A posição dos missivistas que defendem a atitude da Unicamp é, também ela, partidarizada, uma vez que não estariam dispostos a estender à UDR, por exemplo, a mesma generosidade que dispensam ao MST.


Armas de fogo

"Eu sempre fui um cidadão exemplar, honesto e benquisto por todos que me conhecem. Porto arma legalmente há dez anos. Já sofri sete tentativas concretas de assaltos na área central da minha cidade e me salvei de todas elas por estar armado.
Se nós fôssemos confiar nas estatísticas do governo de que, de cada 16 reações armadas, em 15 as vítimas que reagiram acabaram se dando mal, então eu já morri pelo menos 105 vezes.
A polícia não toma conhecimento da maioria das reações armadas por parte das vítimas."
Fábio Bueno Vinholo (Londrina, PR)

Polêmica

"Apesar de não conhecer a professora Maria Sylvia Carvalho Franco nem o secretário José Aníbal, venho acompanhando a polêmica entre eles nos últimos Mais! e no "Painel do Leitor". Para quem quer "ficar calada", a professora usou três longos parágrafos. Acho que deve ser esse o "peso do silêncio" ao qual ela se refere. Quanto à afirmação de que não leu o artigo de José Aníbal por absoluto desinteresse, parece-me que ela leu, sim, e preocupa-se com as opiniões dele."
Sonia Pereira (São Paulo, SP)

"Com relação à polêmica publicada pelo caderno Mais! nos quatro últimos domingos, quero manifestar minha solidariedade à professora Maria Sylvia Carvalho Franco e cumprimentá-la pela excelência de seus artigos. Desconheço as origens e as qualificações intelectuais do sr. José Aníbal que me permitam julgar a adequação de sua pessoa.
Entretanto sou forçado a reconhecer a superioridade intelectual da professora Maria Sylvia. Estou certo de que ela conseguiu, com rara felicidade, expressar o pensamento da comunidade universitária, não só de São Paulo, mas de todo o país."
Antonio Lamberti (São Paulo, SP)

Carpeaux

"Gostaria de parabenizar a Folha e o Mais! pela bela lembrança e homenagem ao grande intelectual, pensador e humanista que foi Otto Maria Carpeaux (4/7). Críticos de sua estatura (raríssimos ou talvez inexistentes hoje em dia) fazem falta ao país.
Bons tempos aqueles em que a chamada "crítica literária" ainda não tinha se transformado num verdadeiro "cipoal" teórico-terminológico, "especializado" e chato -muitas vezes ilegível! Evoco, de memória, outras figuras tão importantes quanto Carpeaux que também fazem falta: Sérgio Buarque de Holanda, Anatol Rosenfeld, Sérgio Milliet, Paulo Rónai, Augusto Meyer, Álvaro Lins... Em Minas, lembro o escritor e crítico que foi Eduardo Frieiro. Que tal produzir reportagens sobre eles também?"
Carlos Ávila (Belo Horizonte, MG)


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