São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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ELIANE CANTANHÊDE

Nós, os leigos

BRASÍLIA - Os cobras do Direito olham as capas dos processos, ignoram a jurisprudência e tratam do mesmo jeitinho o habeas corpus do Manoel da padaria e do Cacciola do banco. Um não tem onde cair morto e o outro é vivo e rico o suficiente para sumir no mundo. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras da economia impõem um câmbio irreal e o maior juro do planeta durante meses, anos até. O empresariado fica de língua de fora e os trabalhadores, sem emprego. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras das finanças despejam mais de R$ 2 bilhões em dois tamboretes para evitar um "risco sistêmico". Pouco banco para muito perigo. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do TST, do Orçamento e do Congresso e o próprio presidente da República atuam em círculo para liberar milhões para um prédio novo do TRT-SP. Desvio: R$ 169 milhões. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do governo devoram entranhas e segredos de palácios, bancos e ministérios e saem um a um para bancos, consultorias e lobbies privados. Dobram patrimônios num ano. Depois, voltam. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras da política xingam a mãe um do outro numa eleição. E tiram fotos aos abraços, sorrisos, beirando as lágrimas, na seguinte. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras da Polícia Federal não descobrem nem quem anda por aí grampeando telefonemas do presidente da República, quanto mais o ex-juiz Lalau e o Cacciola. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do direito econômico fiscalizam negócios, preços, monopólios, mas a inflação é mínima e o reajuste dos remédios, o máximo. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Em resumo, nós, os leigos, somos ignorantes, levianos, desenvoltos, prosaicos e desrespeitosos. Por isso, grosseiramente injustos.
Mas somos nós, os leigos, que arcamos com o prejuízo!


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