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ELIANE CANTANHÊDE
Nós, os leigos
BRASÍLIA - Os cobras do Direito olham as capas dos processos, ignoram a jurisprudência e tratam do
mesmo jeitinho o habeas corpus do
Manoel da padaria e do Cacciola do
banco. Um não tem onde cair morto
e o outro é vivo e rico o suficiente para sumir no mundo. Nós, os leigos,
não entendemos nada.
Os cobras da economia impõem um
câmbio irreal e o maior juro do planeta durante meses, anos até. O empresariado fica de língua de fora e os
trabalhadores, sem emprego. Nós, os
leigos, não entendemos nada.
Os cobras das finanças despejam
mais de R$ 2 bilhões em dois tamboretes para evitar um "risco sistêmico". Pouco banco para muito perigo.
Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do TST, do Orçamento e
do Congresso e o próprio presidente
da República atuam em círculo para
liberar milhões para um prédio novo
do TRT-SP. Desvio: R$ 169 milhões.
Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do governo devoram entranhas e segredos de palácios, bancos e ministérios e saem um a um para bancos, consultorias e lobbies privados. Dobram patrimônios num
ano. Depois, voltam. Nós, os leigos,
não entendemos nada.
Os cobras da política xingam a mãe
um do outro numa eleição. E tiram
fotos aos abraços, sorrisos, beirando
as lágrimas, na seguinte. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras da Polícia Federal não
descobrem nem quem anda por aí
grampeando telefonemas do presidente da República, quanto mais o
ex-juiz Lalau e o Cacciola. Nós, os leigos, não entendemos nada.
Os cobras do direito econômico fiscalizam negócios, preços, monopólios, mas a inflação é mínima e o reajuste dos remédios, o máximo. Nós, os
leigos, não entendemos nada.
Em resumo, nós, os leigos, somos ignorantes, levianos, desenvoltos, prosaicos e desrespeitosos. Por isso, grosseiramente injustos.
Mas somos nós, os leigos, que arcamos com o prejuízo!
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