São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Torneio de delinqüência

SÃO PAULO - A partir do depoimento de Marcos Valério anteontem, PT e PSDB intensificaram o torneio em que estão envolvidos. Um torneio não para demonstrar quem é o melhor, mas para provar que um delinqüe menos que o outro.
Examinemos as táticas. A do PT é um desdobramento da exposta pelo próprio presidente da República na célebre entrevista concedida em Paris. Pode ser resumida em: caixa dois, todo mundo faz. Logo, ninguém deve arrancar os cabelos quando for apanhado com malas cheias de dinheiro ou cuecas carregadas de dólares.
Exposto o financiamento irregular para a campanha do PSDB em Minas, em 1998, o PT acrescenta um novo elemento: diz que é a mesma técnica agora utilizada pelo PT. Tradução: nós não negamos que delinqüimos, mas eles delinqüiram antes.
Já o PSDB, que também não pode negar a delinqüência do caixa dois, apela para "nós delinqüimos, mas eles delinqüem em maior escala e de forma sistêmica" (a palavra "sistêmica", no caso, é interessante porque pode induzir um editor distraído a puxar o noticiário para as páginas políticas, se ainda houvesse algo parecido num país como este).
A tese tucana, provavelmente correta, é a de que o caso PT vai muito, mas muito além de caixa dois. Nem por isso um delito menor pode ser assumido como contraponto.
Nesse cenário, fica desgraçadamente mais bonita a atitude de partidos nos quais a compra de importantes figuras pelo PT está provada, casos de PP, PL, PMDB. Silenciam, poupando um país perplexo e enojado de ver, além do espetáculo da corrupção, o espetáculo da delinqüência plenamente assumida.
Se se considerar que os dois competidores no torneio da delinqüência, PT e PSDB, dominaram a cena política federal nas três mais recentes eleições presidenciais, tem-se que o mais pessimista dos brasileiros com a política tupiniquim é apenas realista. Azar dele.

@ - crossi@uol.com.br


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