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Reaprender a ensinar
Ênfase em didática, programas estruturados, supervisão e combate à rotatividade são cruciais para renovar a educação
A ENTREVISTA do economista Martin Carnoy
publicada ontem nesta
Folha chamou a atenção para uma das maiores dificuldades no esforço nacional pela melhora da educação básica: a
formação dos professores brasileiros e as redes públicas de ensino dão pouca prioridade para a
didática. Em outras palavras, os
mestres aprendem mais na faculdade sobre teorias pedagógicas e menos sobre o que fazer na
sala de aula -e como.
O pesquisador da Universidade Stanford, nos Estados Unidos,
baseia suas recomendações num
estudo aprofundado da bem-sucedida educação cubana. Ele
combinou as ferramentas da estatística mais abrangente com os
detalhes das pesquisas qualitativas. Seu grupo também comparou as práticas educacionais cubanas com as de escolas brasileiras e chilenas, que têm desempenhos piores.
No Brasil, não foi só a falta de
ênfase em "coaching" (treinamento prático) que ficou evidente. Há pelo menos quatro fatores
de deficiência concorrendo para
que a ação dos professores seja
ineficaz a ponto de condenar alunos brasileiros às últimas colocações no exame internacional de
aprendizagem Pisa, organizado
pela OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento
Econômico). São eles: didática,
programação, supervisão e permanência na escola.
Além de treinamento didático,
os mestres precisam ter clareza
sobre o conteúdo que devem ensinar, e quando. É o segundo fator. Em alguns sistemas públicos, como o do Estado de São
Paulo, a carência começou a ser
resolvida com a edição de guias
curriculares, que organizam a
matéria numa sequência pensada para favorecer a assimilação.
De nada adiantam os guias,
contudo, sem o terceiro componente, supervisão e controle sobre o cumprimento da programação. São atividades quase desconhecidas no ensino oficial. Há
Estados em que o cargo de supervisor nem sequer existe.
Onde há supervisores, por outro lado, eles raramente visitam
as escolas e menos ainda as salas
de aula, para inteirar-se do que
de fato acontece nelas. Ficam
imersos em atividades burocráticas ou prisioneiros de uma cultura que privilegia o controle sobre as escolas privadas, justamente aquelas que menos precisam de supervisão.
O quarto e último item dessa
receita para o fracasso pedagógico está na alta rotatividade docente. Professores precisam permanecer mais numa escola, numa série e numa disciplina, além
de faltar menos, para ter tempo
de se aperfeiçoar e familiarizar
com a escola e sua comunidade.
No Estado de São Paulo, sucessivas administrações peessedebistas, ao longo de 14 anos, foram
incapazes de acabar com o despropósito de ter até 40% dos
mestres solicitando mudança de
escola a cada ano. Só agora, com
o novo sistema de progressão salarial anunciado, a permanência
no corpo docente da mesma escola passa a ser critério para recebimento do incentivo, ao lado
de assiduidade e desempenho
em provas.
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