São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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MARCOS ANTONIO CINTRA

Gestão de ativo

COM A desregulamentação financeira, a gestão da riqueza passou a depender, crescentemente, de estratégias de diversificação dos ativos (compra e venda de moedas, commodities, petróleo, título de dívidas, ações, derivativos etc.). Por conseguinte, a negociação de ativos (trading) transformou-se na principal atividade dos sistemas financeiros.
A concorrência levou os administradores de portfólio a utilizar derivativos e tomar créditos no mercado, oferecendo a própria carteira como garantia, para operar volumes crescentes de recursos, às vezes muito acima do patrimônio, com o objetivo de maximizar ganhos de capital. Nesse processo, houve a junção das estratégias das grandes instituições financeiras com a expertise dos fundos hedge.
A despeito de possuírem ativos de US$ 1,4 trilhão, os fundos hedge, com os recursos emprestados, multiplicam suas aplicações por meio de operações complexas e opacas. Os bancos (com ativos globais de US$ 63,5 trilhões) e os investidores institucionais (com US$ 46 trilhões) emulam suas estratégias e amplificam o volume de capital nos movimentos iniciados pelos "hedge funds". Os sistemas financeiros interligados passam a ser condicionados pelas decisões desses fundos de investimento, que determinam o sentido dos movimentos de valorização e desvalorização dos estoques de ativos mobiliários e imobiliários mundiais.
Em momentos de estabilidade, esses investidores ampliam suas aplicações de maiores riscos. Na incerteza, com o aumento excessivo das oscilações dos preços dos ativos, precipitam uma busca frenética pela redução das posições mais arriscadas, e ordens maciças de venda são disparadas pelos modelos de avaliação. Como todos os agentes relevantes acabam seguindo a mesma estratégia de gestão de riscos para orientar seus investimentos, o mercado financeiro global fica sujeito a ondas de euforia, que podem gerar bolhas especulativas, e ondas de turbulências.
Nesse momento de aversão ao risco, os grandes investidores globais vendem ações, moedas e bônus de países emergentes, como o Brasil, commodities, petróleo e compram títulos do Tesouro americano, a despeito da crise em seu sistema financeiro.
Até o momento, as medidas tomadas para conter essas ondas de instabilidade têm sido ad hoc sob o ímpeto das necessidades mais prementes para evitar a propagação do risco sistêmico. Todavia, vai ficando evidente a necessidade de uma re-regulação desse sistema, em que todos os agentes (e indivíduos) viraram fundos hedge, pois adotam agressivas estratégias financeiras.
O Congresso americano discute amplo projeto de reforma de suas instituições de supervisão e regulação. Pode ser um começo.


MARCOS ANTONIO CINTRA é da equipe de editorialistas da Folha . Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Kenneth Maxwell, que escreve às quintas-feiras nesta coluna.


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