São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2010

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Menos aperto

Ata do Copom sugere, com razão, que economia brasileira evoluiu e já não exige mais juros tão altos para controlar a inflação

A ata do Comitê de Política Monetária, divulgada na quinta-feira, revela um Banco Central convicto de que a atual taxa básica de juros, de 10,75% ao ano, será suficiente para assegurar que a inflação coincida com a meta de 4,5% em 2011. Apesar de restar no texto um alerta de que essa trajetória depende, em última instância, do crescimento equilibrado entre oferta e demanda, prevaleceu a convicção de que o cenário será favorável nos próximos meses.
No quadro internacional há incertezas sobre o crescimento das principais economias e dos preços das commodities, mas, pelo menos até o momento, a influência sobre a economia brasileira tem sido deflacionária. Internamente a perspectiva é de continuidade do crescimento, sustentado pelo aumento do emprego e da renda, mas em ritmo mais moderado do que os 7% previstos para este ano.
Além do foco corriqueiro na conjuntura, chama atenção no documento a discussão sobre o processo inflacionário e os juros. O BC argumenta que o sistema de metas teve evolução marcante nos últimos anos e, como consequência, a chamada taxa de juros neutra (que equilibra demanda e oferta sem pressões inflacionárias ou aumento de desemprego) é hoje inferior à que vigorava no passado.
As razões para tal evolução seriam várias, em especial a redução dos prêmios de inflação e risco cambial, os avanços na estrutura dos mercados financeiros e a geração de superávits primários em nível suficiente para reduzir aos poucos a relação dívida líquida/ PIB. Com isso, a eficácia da política monetária teria aumentado, dispensando taxas tão altas para ancorar a inflação.
A experiência recente endossa essa análise, pois é fato que a taxa Selic foi progressivamente reduzida nos últimos anos sem prejudicar a estabilidade da economia.
Ressalte-se, por precaução, que a "taxa neutra" é cercada de insolúveis controvérsias entre economistas. O BC não perde a oportunidade, no texto, o que é inédito, de alfinetar analistas "pessimistas", cujas análises sobre a taxa neutra "tendem a não encontrar amparo nos fundamentos".
No geral é correta a visão de que o Brasil avançou muito na consolidação do regime de metas e da estabilidade econômica. Cabe, no entanto, uma ressalva: quando menciona a redução dos prêmios de risco cambial e de inflação, o BC com certeza tem em mente a redução da instabilidade e o fortalecimento da economia que resultaram, nos últimos anos, do ajuste das contas externas.
Talvez essa tenha sido a fonte primeira da estabilidade recente, que facilitou em muito o trabalho de controle da inflação. É prudente, porém, não superestimar o sucesso neste momento em que novamente se acentua o descompasso entre importação e exportação na economia brasileira.


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