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Menos aperto
Ata do Copom sugere, com razão, que economia brasileira evoluiu e já não exige mais juros tão altos para controlar a inflação
A ata do Comitê de Política Monetária, divulgada na quinta-feira, revela um Banco Central convicto de que a atual taxa básica de
juros, de 10,75% ao ano, será suficiente para assegurar que a inflação coincida com a meta de 4,5%
em 2011. Apesar de restar no texto
um alerta de que essa trajetória
depende, em última instância, do
crescimento equilibrado entre
oferta e demanda, prevaleceu a
convicção de que o cenário será
favorável nos próximos meses.
No quadro internacional há incertezas sobre o crescimento das
principais economias e dos preços
das commodities, mas, pelo menos até o momento, a influência
sobre a economia brasileira tem
sido deflacionária. Internamente
a perspectiva é de continuidade
do crescimento, sustentado pelo
aumento do emprego e da renda,
mas em ritmo mais moderado do
que os 7% previstos para este ano.
Além do foco corriqueiro na
conjuntura, chama atenção no documento a discussão sobre o processo inflacionário e os juros. O BC
argumenta que o sistema de metas teve evolução marcante nos últimos anos e, como consequência,
a chamada taxa de juros neutra
(que equilibra demanda e oferta
sem pressões inflacionárias ou aumento de desemprego) é hoje inferior à que vigorava no passado.
As razões para tal evolução seriam várias, em especial a redução
dos prêmios de inflação e risco
cambial, os avanços na estrutura
dos mercados financeiros e a geração de superávits primários em nível suficiente para reduzir aos
poucos a relação dívida líquida/
PIB. Com isso, a eficácia da política monetária teria aumentado,
dispensando taxas tão altas para
ancorar a inflação.
A experiência recente endossa
essa análise, pois é fato que a taxa
Selic foi progressivamente reduzida nos últimos anos sem prejudicar a estabilidade da economia.
Ressalte-se, por precaução, que
a "taxa neutra" é cercada de insolúveis controvérsias entre economistas. O BC não perde a oportunidade, no texto, o que é inédito, de
alfinetar analistas "pessimistas",
cujas análises sobre a taxa neutra
"tendem a não encontrar amparo
nos fundamentos".
No geral é correta a visão de que
o Brasil avançou muito na consolidação do regime de metas e da estabilidade econômica. Cabe, no
entanto, uma ressalva: quando
menciona a redução dos prêmios
de risco cambial e de inflação, o
BC com certeza tem em mente a redução da instabilidade e o fortalecimento da economia que resultaram, nos últimos anos, do ajuste
das contas externas.
Talvez essa tenha sido a fonte
primeira da estabilidade recente,
que facilitou em muito o trabalho
de controle da inflação. É prudente, porém, não superestimar o sucesso neste momento em que novamente se acentua o descompasso entre importação e exportação
na economia brasileira.
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