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Mitos do 11/9
Há exagero na versão de que os ataques de dez anos atrás mudaram curso da história, em que EUA e nações árabes passam a ter peso declinante
Dez anos depois dos brutais
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados
Unidos, a noção de que o episódio
mudou o curso da história parece
exagerada.
Pelo uso de aviões sequestrados
como arma, pelo simbolismo dos
alvos atingidos e pelo número de
assassinados -quase 3.000-,
aquele dia se destaca na crônica
de horrores do terrorismo. Mas
não se pode sustentar que tenha
acarretado mudanças duradouras
no cenário mundial.
A política externa americana,
na década passada, decerto mudou. Subordinou-se quase por
completo ao propósito de combater a rede de extremistas islâmicos
responsável pelo ataque.
Deflagrada um mês depois, a
guerra do Afeganistão foi reação
legítima contra o Estado que dava
respaldo logístico à rede Al Qaeda.
A derrubada do Taleban, que governava o país centro-asiático,
contribuiu de modo decisivo para
debilitar aquele grupo terrorista.
O governo de George W. Bush
desbaratou, porém, o amplo
apoio internacional colhido nessa
primeira fase ao iniciar, em 2003,
uma guerra injustificável contra o
Iraque. Esse país não detinha armas de destruição em massa nem
seu ditador mantinha vínculos
com a rede terrorista, como alegou
então, por má-fé e paranoia, o governo americano.
Num desdobramento irônico
dos fatos, o Iraque é hoje uma democracia dotada de relativa estabilidade, enquanto o Afeganistão
se acha entregue a um governo
corrupto assediado por endêmica
guerra civil.
De toda forma, a Al Qaeda foi
desmantelada. Produziu até agora
apenas dois outros atentados de
vulto (Madri, em março de 2004;
Londres, em julho de 2005), nenhum deles nos Estados Unidos. A
morte do dirigente Osama bin Laden, na incursão de um comando
americano contra seu refúgio no
Paquistão, em maio, aparentemente encerra um ciclo.
É cedo para prever os rumos da
atual onda de revoltas populares
contra ditaduras no mundo árabe,
sendo plausível que o desenlace
varie de um país a outro. Mas o
sentido implícito parece democratizante e alheio à mitologia criada
pelo extremismo islâmico.
O próprio desenvolvimento capitalista, que dissemina informação e cria expectativas de consumo material e participação política, age como um ácido a dissolver
as incrustações de fundo agrário-religioso nessas sociedades. O
tempo e o progresso são os maiores adversários do fundamentalismo islâmico.
De resto, a evolução histórica
delineada na última década sugere que tanto os Estados Unidos como os países árabes terão peso
geopolítico declinante nos tempos
que estão por vir.
O ascenso da China e demais
nações emergentes surge como
contraponto à paulatina perda de
influência do mundo desenvolvido. E embora o petróleo não venha
a ser substituído tão cedo, a exploração de novos lençóis e a diversificação da matriz energética mundial tendem a esvaziar a importância dos exportadores tradicionais
do produto.
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