São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Depois das ventanias FÁBIO WANDERLEY REIS
A campanha e o desfecho do primeiro turno das eleições de 2002
merecem leitura sem dúvida positiva.
Não é o caso, porém, de subestimar o possível significado institucional do avanço petista. São inevitáveis as deficiências do eleitorado popular nas circunstâncias do fosso social que subsiste. Mas, se o jogo político-partidário continuar a se desenrolar de forma a permitir a criação de identificações partidárias estáveis e a canalizar, em termos partidários, a participação política popular, diferentemente das perturbações da dinâmica partidária que têm resultado das turbulências de nossa história política recente, estarão se criando as condições para que uma estrutura partidária consistente venha a operar como obstáculo às lideranças aventureiras ou de tipo personalista e populista. Afinal, Maluf foi excluído do segundo turno, como ele mesmo disse, pela "ventania petista", que também ajudou a liquidar Newton Cardoso em Minas, com os 30% de votos obtidos por Nilmário Miranda na reta final. A redução do espaço de lideranças como essas surge em boa medida, assim, como o mero anverso da afirmação do PT. Naturalmente, isso está longe de garantir que estejamos livres delas. Certos aspectos do próprio êxito relativo de Ciro e Garotinho advertem nesse sentido, sem falar de Enéas... Duas ponderações finais. A primeira é a indagação de até que ponto, seja qual for a natureza do apoio dado a Lula pelos eleitores, sua provável vitória tenderá ainda a ser percebida pelas elites como o acesso de uma perigosa esquerda ao poder. Felizmente, temos, no plano nacional, claros indícios de um aprendizado de convergência e moderação (o discurso moderado é aqui certamente relevante), em que o PT ruma a um modelo social-democrático, e setores importantes do empresariado parecem prontos a aceitar de maneira desarmada a convivência com ele nesses termos. Mas há outro aspecto, que tem a ver com as relações de nosso processo político-eleitoral com a dinâmica econômica transnacional da atualidade. Nesse plano, o caráter classicamente problemático das relações entre o capitalismo e a democracia adquire feição nova, em que, em vez do golpe de Estado, a suposta ameaça da esquerda é confrontada, como sugeriu Rubens Ricupero, pelo "golpe de mercado" -o veto que se traduz em turbulência econômica e ameaça de crise catastrófica. Aqui, sim, há ventania assustadora, ainda que ela revista o eventual êxito de um governo petista (ou seu simples funcionamento normal) de muito maior significação, dando-lhe relevância mundial. E não há como deixar de repelir o veto. Fábio Wanderley Reis, 64, cientista político, doutor pela Universidade Harvard (EUA), é professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ruy Martins Altenfelder Silva: O legado da ética Índice |
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