São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004 |
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Saúde na cidade
JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI
Isso tudo já deveria ter sido feito há muito tempo sem construção. Mostrar maquete agora é exibir desconhecimento e passar a impressão de artifício pré-eleitoral. Outro motivo de indignação é que a atual prefeitura teve três anos para organizar a atenção primária (centros de saúde) e não o fez. Persiste o paradoxo do povo doente e centros de saúde vazios, por falta de acesso, acolhimento e eficiência. Sem centros de saúde funcionando, adianta pouco fazer centros de diagnóstico especializados, porque eles ficarão superlotados, com problemas que deveriam ser resolvidos nos centros de saúde. A tentativa de correção desse descaso -ou incompetência- com promessas causou mais perplexidade do que esperança. O povo percebe que, na saúde, oito anos foram perdidos com o PAS e outros quatro desperdiçados entre o PSF mostrado como panacéia e a maquete mágica. Temos na cidade o melhor aparelho de saúde da América Latina e os melhores profissionais. É preciso saber aproveitá-los, e hoje são três os movimentos necessários. O primeiro é organizar a atenção primária nos moldes corretos nas 386 unidades existentes e suficientes (uma para cada 20 mil usuários do SUS), integrando ações de tratamento, diagnóstico precoce e prevenção primária no mesmo local e hora, sem burocracia, com fácil acesso e bom acolhimento. Com isso seriam resolvidos 90% dos problemas de saúde. Cerca de 10% dos centros de saúde deveriam, em locais estratégicos, funcionar 24 horas por dia, para atender urgências e emergências, com ambulâncias na porta para remoção orientada dos casos mais graves, aliviando de imediato o Sistema Centralizado de Emergência, que está saturado. A dificuldade maior talvez seja o médico, que não tem condições de ir todos os dias à periferia para cumprir jornada de quatro horas. Entre idas e vindas e consumo de combustível, ele gasta quase tudo o que ganha. Mas ele iria para cumprir plantões de 12 ou 24 horas semanais, o que poderia ser uma solução com o mesmo custo e maior eficiência. O segundo movimento é acabar com a ociosidade nos hospitais públicos (hoje com leitos suficientes), fazendo-os funcionar a pleno vapor, assim como seus ambulatórios, que se somariam aos PAMs -herdados do Inamps-, cumprindo, como já comentamos, a função de centros de diagnóstico especializados e tratamentos ambulatoriais. O terceiro é mudar o eixo de comando do sistema, deslocando-o, em favor do paciente, para a atenção primária e ambulatórios de especialidades que deveriam determinar o atendimento nos hospitais. Existem modelos a ser seguidos para as propostas descritas. Tudo isso se chama gestão. Requer experiência prolongada e aprofundada, criatividade e muita seriedade, mas, quando realizada, permite resultados bons a curto prazo e com baixo custo. José Aristodemo Pinotti, 69, deputado federal pelo PFL-SP, é professor titular de ginecologia da USP e presidente do Instituto Metropolitano de Altos Estudos. Foi secretário da Educação (1986-87) e da Saúde (1987-91) do Estado de São Paulo, secretário da Saúde do município de São Paulo (2000) e reitor da Unicamp (1982-1986). Texto Anterior: TENDÊNCIA/DEBATES Cristovam Buarque: Anorexia histórica Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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