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A bomba prolifera
O SUPOSTO teste nuclear
norte-coreano deve ser
deplorado. Se já é ruim
que mais países tenham acesso a
bombas atômicas, pior quando
tais artefatos caem nas garras de
uma ditadura tenebrosa.
Feita essa constatação, é preciso reconhecer que, em termos
estritamente jurídicos, a Coréia
do Norte tem tanto direito quanto os EUA ou a Rússia de possuir
uma bomba. Só o que limita a
aquisição ou o desenvolvimento
de artefatos bélicos atômicos é o
Tratado de Não-Proliferação
Nuclear (TNP), do qual a Coréia
do Norte não é mais signatária.
Daí não segue que o mundo esteja de mãos atadas. Se um ou
mais países quiserem impor sanções à Coréia do Norte por conta
do que consideram um comportamento hostil, podem fazê-lo.
O problema é a assimetria do
sistema de não-proliferação. Firmado em 1968, o TNP peca por
tentar congelar a divisão do
mundo em duas categorias de
países. Na primeira figurariam as
cinco potências nucleares da
época -EUA, URSS (depois a
Rússia), Reino Unido, França e
China-, autorizadas a manter
arsenais. Na segunda estariam os
demais, que se comprometeriam
a nunca adquirir tais armas.
Não surpreende que o TNP jamais tenha funcionado bem. Índia, Paquistão e Israel, que nunca assinaram o documento, desenvolveram arsenal atômico. A
África do Sul também, mas o destruiu nos anos 90. A Coréia do
Norte, que era signatária do pacto, denunciou-o em 2003.
Um TNP imperfeito é ainda
preferível à anarquia nuclear.
Mas, para que o pacto possa ser
respeitado, as potências nucleares deveriam dar seguimento a
uma das previsões do tratado e
estabelecer um cronograma de
longa duração para o completo
desmantelamento atômico.
Tal disposição jamais foi tratada com seriedade. A existência
de duas categorias de países pode
ser admitida como excepcional e
transitória; não como definitiva.
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