São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Editoriais

O desafio europeu


Crise ressalta necessidade de mais coordenação entre nações; desacordo na Europa ampliou danos

A CRISE financeira desafia em vários países as autoridades, obrigadas a responder de atropelo aos acontecimentos. A importância de ações coordenadas ficou evidente, e as reuniões em Washington do G7 e do G20, neste fim de semana, tornaram dramática a expectativa por uma solução coletiva.
Essa necessidade tem servido particularmente para ressaltar os limites da União Européia (UE) em dar uma resposta efetiva, dentro de sua estrutura institucional. Tal limitação tem sido um fator potencial de agravamento da instabilidade.
Até o momento, um dos pilares menos contestados da unificação no velho continente é justamente a convergência econômica. A disciplina fiscal e monetária, defendida especialmente pela Alemanha, segue normas estritas. A inflação precisa ser controlada, e o déficit público não pode exceder 3% do PIB em cada país. A dívida pública não pode superar 60% do PIB.
São regras impostas para evitar que países recém-integrados enveredassem pelo populismo econômico. Agora, no entanto, cobram um preço alto: a inércia diante de situações que exigem respostas ágeis.
Uma cúpula, no sábado passado em Paris, falhou em produzir resposta coordenada. França, Reino Unido, Alemanha e Itália discutiram a proposta de uma versão européia do plano Paulson. A idéia colocou França de um lado, Reino Unido e Alemanha de outro. A Espanha protestou por não ter sido convidada.
Antes disso, a Irlanda já havia anunciado que garantiria todos os depósitos individuais em seus bancos. Com a medida, despertou a ira de outros países europeus, pois poderia atrair capitais em fuga dos parceiros. O gesto, intempestivo, acabou sendo seguido pela Alemanha.
Mais tarde, reunião dos 27 ministros de Finanças em Luxemburgo limitou-se a declarações pela salvaguarda das instituições e ao anúncio de novo limite de garantia para os depósitos individuais na UE.
Ao longo da semana, o presidente francês propôs um pacote de 300 bilhões. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, sugeriu um fundo de resgate de 3% do PIB europeu. O plano não prosperou. A oposição da chanceler alemã, Angela Merkel, e do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, foi considerada um revés para a União Européia.
Os líderes foram atropelados pelo agravamento da crise e, ao longo da semana, emergiu afinal a importante ação coordenada de bancos centrais, incluindo o Europeu e o da Inglaterra, de diminuir as taxas de juros de curto prazo. Mais que isso, o Reino Unido propôs o plano de semi-estatização dos bancos. Inaugurou o caminho que vem se impondo como a melhor solução para a crise e que será copiada nos Estados Unidos.
O novo concerto financeiro internacional, que emergirá da atual crise, certamente levará a Europa a enfrentar as fragilidades de seu modelo.


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