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TENDÊNCIAS/DEBATES
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O processo de alta do dólar vai continuar?
SIM
Riscos cada vez maiores para o real
PAULO TENANI
A DEPRECIAÇÃO do real está de
volta à pauta, e a tendência para uma moeda ainda mais fraca
deve persistir.
Não que o cenário para o real seja
tão evidente quanto foi no passado,
quando todas as forças apontavam na
direção de um real forte. Hoje, existem forças fundamentais apontando
tanto na direção de uma apreciação
quanto na de uma depreciação da
moeda brasileira. À médio prazo, porém, são as forças da depreciação que
devem dominar a dinâmica do real.
Pelo lado de um real mais forte,
continua o Banco Central do Brasil,
pois a Selic segue mais alta que os juros em dólares da dívida externa soberana. Ou seja, com uma Selic de
13,75% e os juros em dólares da dívida
externa em 8%, os investidores globais são bem recompensados por tomarem risco cambial no Brasil.
Porém, aqui cabe um senão. Com a
crise recente, a taxa de risco Brasil
atingiu 4,8% (mínimo de 1,6% em
2007), elevando os juros em dólares
da dívida externa para os atuais 8,2%
(mínimo de 5,8% em 2007). Ou seja, o
diferencial de juros atual, embora
ainda favorável ao real forte, não é
mais tão generoso quanto no passado.
Pior, um aumento adicional de 1,5
ponto percentual no risco Brasil poderia colocar o real na "zona do perigo
do diferencial de juros" -em que os
investidores são mal recompensados
por seu risco cambial.
Nessa região, a depreciação da
moeda brasileira tende a ser mais que
proporcional, e o surgimento de bolhas especulativas no mercado de
câmbio não pode ser descartado.
Pelo lado do real mais fraco, as forças são várias. Em termos de paridade
do poder de compra, o Brasil há muito
deixou de ser um país barato, e a moeda brasileira pode ainda estar 30%
acima do seu valor justo. Isso não é
um cenário confortável para um país
cuja baixa produtividade não lhe permite, pelo menos durante muito tempo, ser um país caro.
Em segundo lugar vêm as contas
externas. Nos últimos 12 meses, a
conta corrente brasileira saltou de
um superávit de 0,71% do PIB, em
agosto de 2007, para um déficit de
1,45% do PIB, em agosto de 2008
-uma variação de 2,16 pontos percentuais em um ano. Nessa velocidade, um déficit em conta corrente de
3% do PIB ao final de 2009 -acompanhado de um déficit na balança comercial- é uma possibilidade concreta. São números preocupantes.
A terceira força na direção de um
real mais fraco é a movimentação do
dólar no mercado global -responsável pela recente depreciação da moeda brasileira. Aqui, a lógica é menos
direta, mas o argumento é bastante
interessante. Até recentemente, a
maior parte do ajuste no déficit em
conta corrente americano se deu por
meio da depreciação do dólar ante as
moedas de taxas flexíveis, sobretudo
o euro e a libra, mas também o real. As
moedas asiáticas, todas com câmbio
fixo ou controlado, quase não contribuíam para esse ajuste, que acabou,
portanto, ocorrendo mais que proporcionalmente nas moedas flexíveis.
Esse "overshooting" do euro, da libra e do real já está se revertendo.
Ocorre que os países asiáticos agora
experimentam uma taxa de inflação
desconfortavelmente elevada, o que
já representa, por si só, uma valorização real em suas moedas. Além do
mais, na Ásia, o cenário de inflação
elevada e fortes superávits em conta
corrente sugere, cedo ou tarde, uma
apreciação nominal de suas moedas.
O lado real da economia americana
também começa a contribuir com o
ajuste da conta corrente -e os Estados Unidos devem crescer menos do
que mundo pelos próximos três anos.
A conclusão é clara. Com as moedas
asiáticas e o crescimento dos EUA finalmente contribuindo para o ajuste
da conta corrente americana, a pressão excedente sobre as moedas flexíveis -que até agora fizeram a maior
parte do ajuste- passa a se extinguir.
Portanto, no atual cenário, o dólar
deve se apreciar ante o euro, a libra e o
real, enquanto se deprecia ante as
moedas asiáticas. Ou seja, mais uma
força apontando para um real fraco.
Dadas todas essas forças, os riscos
estão aumentando, e o cenário talvez
seja de depreciação continuada do
real. Afinal, com o Brasil sendo um
país caro, o déficit em conta corrente
se deteriorando e o dólar se fortalecendo no mercado global, o que dará
sustentação ao real quando o Banco
Central encerrar o ciclo de aperto
monetário?
PAULO TENANI é professor de finanças internacionais da
Fundação Getúlio Vargas e autor do livro "Human Capital
and Growth".
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